Estudo atesta pico de euforia no mercado brasileiro de arte por Silas Martí, Folha de S. Paulo
Matéria de Silas Martí originalmente publicada no jornal Folha de S. Paulo em 24 de julho de 2013.
Novos números comprovam a sensação de euforia no mercado de arte
brasileiro, que cresceu 22,5% em 2012, três vezes a média mundial, de
7%, segundo um último levantamento de dados. As galerias de arte
contemporânea chegaram à arrecadação de R$ 250 milhões ao ano, enquanto
preços de obras subiram em média 15%, bem acima da inflação do período.
Outro dado também surpreende. Segundo um relatório da secretaria
paulista da Fazenda obtido pela Folha, a última edição da feira SP-Arte,
em abril, declarou R$ 99 milhões em vendas, mais do que o dobro de
2012, quando registrou R$ 49 milhões.
Essa é apenas uma fração do total dos negócios da feira, já que só as
comercializações com isenção de impostos estaduais --no caso, as vendas
de algumas obras importadas-- precisam ser declaradas dessa forma. O
faturamento total pode ter superado R$ 300 milhões porque essas
transações respondem por pouco menos de um terço do total das galerias.
Números do estudo mais recente do projeto Latitude, que reúne a
Agência Brasileira de Promoção de Exportações e a Associação Brasileira
de Arte Contemporânea, obtidos com exclusividade pela Folha, também
mostram que o mercado brasileiro está mais internacional, com artistas
estrangeiros representando 22,5% dos times das maiores galerias
nacionais.
Mas galeristas e agentes de mercado relutam em estourar garrafas de champanhe.
"As vendas têm sido bem firmes, mas é fato que o gelo da festa
acabou", diz Marcia Fortes, sócia da galeria Fortes Vilaça. "Artistas
jovens no Brasil custam muito caro, então a tendência é estabilizar."
Ou seja, após atingir um pico, o mercado está mais maduro, com
crescimento "consistente e linear", segundo Ana Letícia Fialho, do
projeto Latitude. Mas galeristas preveem uma desaceleração.
COMPASSO DE ESPERA
Num cenário político e macroeconômico conturbado, com o dólar em
disparada, manifestações nas ruas e debandada de investimentos
estrangeiros, colecionadores têm ficado mais reticentes.
"Existe um compasso de espera agora", diz André Millan, um dos donos
da galeria Millan. "É lógico que as vendas estão caindo. As pessoas
estavam comprando trabalhos como se fossem caixas de Bis. Agora há um
tom de reclamação entre as galerias, não a euforia sem sentido."
Mas se o Brasil desacelera, uma saída é o mercado estrangeiro.
Segundo dados do Latitude, que serão divulgados na quinta-feira (25), só
11,5% dos clientes das galerias do país são estrangeiros, mas 50%
dessas casas participam de feiras no exterior e 30% têm parcerias com
casas de fora.
"Galerias estão vendo a internacionalização como estratégia de
sobrevivência, para quando o mercado interno não estiver tão dinâmico",
diz Monica Esmanhotto, gerente executiva do Latitude. "Estava todo mundo
acomodado, e agora vemos as galerias saírem da zona de conforto."
Outros agentes de mercado também devem se mexer.
Jones Bergamin, da Bolsa de Arte, a maior casa de leilões do Brasil,
afirma que o setor não deve sofrer uma queda brusca nas vendas, mas
precisa lidar agora com a escassez de obras-primas na praça, as chamadas
"blue chip", que são vendidas com facilidade mesmo em momentos mais
turbulentos.
Um exemplo é uma tela de Adriana Varejão leiloada neste mês --com
lance inicial de R$ 700 mil, a peça foi arrematada depois por R$ 1,5
milhão.
"Uma obra-prima tem liquidez imediata, é fácil vender", diz a
consultora de arte Cecília Ribeiro. "Mas o problema, agora, é que não
estão aparecendo essas coisas excepcionais no mercado.