domingo, 12 de dezembro de 2010

“Há sempre um copo de mar...”, só não sei se dá para navegar...


Arquivo pessoal - Tentando entender o mapa da  Bienal...
Patchwork como técnica é muito interessante, principalmente quando une elementos dos mais variados conceitos. Mas quando a linha de costura não une os pedaços, o trabalho não acontece de fato. E é assim que chega ao final a 29ª Bienal de São Paulo: uma colcha de retalhos desalinhavada, com R$30 milhões gastos em investimentos, 530 mil visitantes, um tema truncadamente explorado, e polêmicas estranhas, de urubus a luzes de néon.  As obras aconteceram individualmente, na sua razão de ser e estar como arte...logo, políticas por si. Algumas com excelente aporte conceitual, como o audiovisual  My African Mind, do angolano Nástio Mosquito, e o quase invísivel Apolítico, do cubano Wilfredo Prieto - instalação de bandeiras de vários países em preto e branco, tremulando ironicamente na frente do pavilhão. Outras já não foram tão felizes, como a versão “loja de departamentos” da obra Ninhos, de Hélio Oiticica, ou o Círculo de Animais , do chinês Ai Weiwei, onde de política ficou a trajetória do artista, a obra, quase que fofinha. Ainda estou tentando entender se o tema circunda o substantivo adjetivado Arte Política, ou se Arte e Política encontram-se substantivamente separados...Desconsiderando a dúvida e  lendo de forma crua a intenção dos curadores, o que resta de emblemática desta edição, acredito eu,  é a obra Abajur, de Cildo Meireles... Quando se trata de uma exposição do porte de uma Bienal, a costura precisa ser evidente, com linhas grossas, coloridas e bem apertadas, senão entre as folgas ficam visíveis o excesso quantitativo que não representa qualidade ou a museografia ineficiente. Ressalvo aqui o intuito da curadoria em dar liberdade ao visitante para fazer o seu circuito, mas sinalização adequada é status quo para um bom aproveitamento de qualquer acervo...
A minha deliciosa surpresa não veio deste megaevento de artes visuais tão esperado, e sim da Paralela 2010, que aconteceu nos galpões do Liceu de Artes e Ofícios. Ali sim arte e política (ou Arte Política) estavam a là overlock, sob o sugestivo nome de “Contemplação do Mundo”. Reuniu trabalhos das principais galerias do país, com obras de 82 artistas. Mesmo com o tema considerado  aparentemente vago  por alguns e a curadoria sofrendo a pressão tradicional de uma mostra neste formato, o resultado final dá um panorama eclético em suportes, mas em uníssono com a reflexão sobre a produção contemporânea. Ah, e claro, uma museografia simples, direta e que funcionou. Deixo aqui, no copo da Paralela 2010, este outro verso de Jorge de Lima, cujo Invenção de Orfeu canta "o poder de navegar, mesmo sem navios /mesmo sem ondas no mar".

3 comentários:

  1. Olá, garota, gostei de passar por aqui.
    Escreves muito bem.

    Beijo!

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  2. Talentosa como poucos, essa Maria Vernissage faz com palavras o que eu teria desenhado.
    Agora eu tenho um panorama de como foi a Bienal.

    Parabéns!

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  3. Concordo e assino em baixo de tudo q foi dito ai...
    como fiel escudeira... tive a oportunidade de acompanhar o percurso... e ver muita coisa interesante... mas tambem muita coisa que nao passo de besteira...
    Para bens pelo texto, fico realemnte exelente.

    Parabens =D

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