segunda-feira, 24 de janeiro de 2011

A exposição do Não...


Depois de uma visita ao Solar do Ferrão para apreciar o acervo exposto de peças sacras, da coleção Abelardo Rodrigues, deixo aqui algumas linhas para reflexão...
Uma exposição começa no pensamento. Em seguida, se projeta ao espaço, ganha contornos físicos. Por último, acontece a experimentação com o corpo. Obras apinhadas em um local como se fosse um estande de feira comercial não é uma exposição. Estas precisam ser contextualizadas, e a isto chamamos curadoria.
Acredito que cada obra deve ocupar o estritamente essencial para ser vivenciada sem perda, mas é necessário abandonar a pretensão de ter sistematicamente um cubo para a peça tridimensional. E também não se torna primordial exibir todos os exemplos para explicar um conceito. Não é preciso esconder as estruturas e pintar tudo: a museografia pode ser Brechtiana, por que não?
Exposições são realizadas para que se aprenda, e apreenda, algo do acervo que se observa/interage. Entendo a curadoria como a criação de uma escola temporária. Público e obras estabelecem um diálogo, em uma vivência curta e com objetivos comuns a ambos. Considero exposições de sucesso aquelas das quais saí como amiga íntima. E esta do Solar, nem como colega de fila de cinema...

segunda-feira, 3 de janeiro de 2011

O rei está nu...

Naked King, de Katarina Vavrova

Em dezembro de 2010 fui assistir a uma palestra de um renomado curador sobre Joseph Beuys, cuja exposição encontra-se em exibição no MAM. Auditório lotado, apresentação logística impecável. Imagens incríveis de pinturas dos séc. XVI ao XIX sobre os santos Cosme e Damião, para exemplificar uma releitura. Um relato sobre a vida do artista em um tom intimista envolvente e explicações elucidadoras sobre algumas de suas obras. Entretanto, após duas horas e meia de audição, percebi que a cola usada para unir estas partes foi de péssima qualidade, como uma forçosa busca sobre o que o Brasil e Joseph Beuys teriam em comum e a correlação estranha entre duas de suas produções e o ataque ao World Trade Center, nos EUA.  Foi muito decepcionante perceber o descuido no discurso, como se o fato de ser um expert estrangeiro corroborasse dizer aleatoriamente qualquer coisa  naquele auditório, e para aquela plateia de parvos brasileiros. E claro, decepção ainda maior de ouvir esta mesma plateia ovacioná-lo com emoção e efusividade ao final de tudo. Senti-me a criança olhando para a roupa nova do rei...
Um ano novo se inicia, mas uma torrencial  chuva de velhas promessas, disfarçadas em  outra roupagem, nos molha com uma obviedade que assusta. Aproveitando este momento onde fica mais fácil aceitar transformações, venho sugerir uma promessa diferente, que ainda não vi acontecer em terras baianas: que tal pararmos de nos embevecer com a mediocridade e as amostras grátis intelectuais que o mundo importado, volta e meia, insiste em nos "presentear" ?