Museu de Seattle prepara grande mostra brasileira e exibe instalação de Sandra Cinto como preparativo
Há mais de dois anos, o Seattle Art Museum (SAM), dos EUA, está de
olho na arte brasileira. Em 2010, quando os diretores da instituição,
uma das principais da costa oeste norte-americana, estiveram em São
Paulo para pesquisar a produção contemporânea nacional, entre museus e
galerias ficaram impressionados com a mostra Imitação da Água, que a
artista Sandra Cinto exibia, na ocasião, no Instituto Tomie Ohtake.
"Essa viagem já era parte das preliminares de um projeto do museu, o de
realizar uma grande exposição de arte brasileira, que estamos
programando para 2015", diz Catharina Manchanda, curadora do SAM.
Na quinta-feira, Catharina e a curadora associada do museu americano,
Marisa Sánchez, conversaram com o Estado no Ibirapuera, o local que
fervilhou de pessoas do meio artístico nacional e internacional durante
esta semana por conta da SP-Arte - Feira Internacional de Arte de São
Paulo, que termina hoje no pavilhão da Bienal. Vieram a convite do
programa do evento, aproveitaram a oportunidade para "pesquisar" -
Catharina ainda ia ao Rio; Marisa, iria depois para o Instituto Inhotim,
em Minas Gerais. O SAM quer investir no projeto da mostra de arte
brasileira. Afinal, já está investindo.
No último dia 14 de abril, Sandra Cinto inaugurou no Olympic
Sculpture Park Pavilion do museu de Seattle a instalação Encontro das
Águas, desdobramento da obra que realizou em 2010 em São Paulo e que
ficará em exposição no local até maio de 2013. "Pensamos que seria
importante para nós convidar artistas seminais, como a Sandra, para
fazer um projeto antes no museu, como uma forma de introduzir a
importância da arte brasileira aos visitantes, sobretudo, o público do
noroeste dos EUA, que nunca viu nada do Brasil", diz Catharina. "Foi o
começo de uma relação mais profunda."
Sandra Cinto é a primeira brasileira a expor no SAM. O trabalho da
artista é um grande painel, com um desenho que recria um mar em tormenta
sobre fundo azul e traços feitos com canetas permanentes à base de óleo
em tonalidades de prata. As ondas remetem às das gravuras ukiyo-e do
japonês Katsushika Hokusai (1760-1849), mas a obra, em seu sentido
poético mais geral, tem como referência o famoso quadro A Balsa de
Medusa, do francês Théodore Géricault (1791-1824).
No pavilhão de vidro do parque de esculturas do SAM (que tem peças
permanentes de Calder e Louise Bourgeois, por exemplo), a obra de
Sandra, formada pelo painel desenhado e por um barco instalado no
espaço, fica de frente para o Oceano Pacífico. "A ideia era colocar o
observador na condição de náufrago da sociedade contemporânea no meio do
mar real e o virtual. Fala de tragédia, mas sem perder a poesia", diz
Sandra. A artista já viaja para os EUA novamente, para inaugurar neste
sábado uma instalação na The Phillips Collection em Washington.
Seu Encontro das Águas foi uma experiência coletiva, criada como "um
bordado" por duas semanas e com a participação de assistentes e de 18
voluntários. "A obra de Sandra está introduzindo a arte brasileira em
Seattle de uma maneira monumental", diz Marisa Sánchez. Por enquanto,
como conta Catharina Manchanda, não há nenhuma obra de artista do Brasil
no acervo (de seções históricas e culturais, europeia, moderna e
contemporânea) da instituição americana - formada pelo museu de arte,
museu de arte asiática e pelo parque de esculturas. A grande exposição
brasileira programada para 2015 poderá alavancar aquisições para o SAM.
"Quero que a exposição tenha um capítulo sobre o momento concretista,
com conexões da arte com a música, a arquitetura e o design; e outro
tendo como ponto de partida o desenvolvimento fascinante da arte
brasileira no contexto político do fim dos anos 60 e reverberando para a
arena contemporânea", diz Catharina, completando que a mostra será
acompanhada de catálogo com textos de profissionais brasileiros
convidados. "Na arte internacional produzida hoje, parece-me que vemos
muitas das coisas formuladas no Brasil no final dos anos 60, uma arte de
conexão com a vida, uma estética que tem uma potência política e
social", continua a curadora, que citou "curiosidade", por exemplo,
sobre obras de artistas como Erika Verzutti e Laura Lima.
link do texto: http://www.canalcontemporaneo.art.br/brasa/archives/004815.html
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