Matéria de Paula Alzugaray originalmente publicada na revista Istoé em 15 de março de 2013.
Uma das mais abrangentes coleções de arte contemporânea latino-americana abre sua sede no Rio de Janeiro, a Casa Daros
Quando, em novembro de 2008, o curador alemão Hans-Michael Herzog
declarou em entrevista às páginas vermelhas de IstoÉ que o papel da
coleção Daros Latinamerica era reescrever a história da arte, a economia
global ainda não havia encontrado uma nova ordem. De lá para cá,
vive-se um processo de reposicionamento dos antigos paradigmas de centro
e periferia, e a arte contemporânea brasileira tem tido papel de
destaque nesse processo. Hoje o Brasil está na mira das grandes grifes
da arte, como a galeria americana Gagosian e a inglesa White Cube. Mas o
interesse da coleção suíça Daros e de Herzog pela região é anterior a
isso. Há 13 anos a Daros, natural de Zurique, na Suíça, vem constituindo
uma das mais abrangentes coleções dedicadas à produção artística da
América Latina, hoje com mais de 1.100 obras de 116 artistas, realizadas
desde a década de 1960 até a atualidade. A coleção não tem similar na
Europa. Para contribuir com a difusão e reflexão sobre esse importante
acervo e a produção artística da região, a coleção inaugura, no sábado
23, a Casa Daros, em um edifício histórico em Botafogo, no Rio, depois
de sete anos de meticulosa obra de restauro e modernização.
A Casa Daros não será a reserva técnica da coleção. Seu projeto é
funcionar como plataforma de comunicação entre os países das Américas.
“A Casa Daros nasce para divulgar a arte latino-americana, mas,
fundamentalmente, como ferramenta de educação e cidadania”, afirma
Isabella Rosado Nunes, diretora-geral da instituição. Amostra disso é
que, desde que a equipe se instalou em um pequeno anexo ao casarão de
monumentais 11 mil metros quadrados, começou a edificar seu projeto de
arte-educação com o mesmo esmero que se dedicou à restauração do prédio.
Nesses anos, já colocou em prática sua vocação em projetos como o
programa “Meridianos”, que promoveu encontros entre dez artistas da
coleção, entre eles Julio Le Parc, Iole de Freitas, Lenora de Barros,
Carlos Cruz-Diez e Vik Muniz; ou como o ateliê Casinha Daros, oficinas
de técnicas pinhole para crianças e jovens do complexo da Maré,
realizadas em parceria com o Observatório das Favelas.
A abertura oficial de uma instituição que já mostrou grande
capacidade de diálogo e integração com a sociedade local, portanto, é um
fato a se comemorar. Suas duas exposições inaugurais são presentes não
só para o carioca, mas para todos os latino-americanos. Com curadoria de
Hans-Michael Herzog, a exposição “Cantos Cuentos Colombianos” preenche
um lacuna de informação e oferece ao público brasileiro uma panorâmica
da arte contemporânea colombiana. Já a mostra “Para Saber Escutar”,
focada nos estudos do pedagogo brasileiro Paulo Freire e com curadoria
do diretor de arte-educação, Eugenio Valdés Figueroa, vem confirmar a
vocação da Casa como um espaço de aprendizado.
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