quinta-feira, 21 de março de 2013

Para gostar de arte latino-americana por Paula Alzugaray, Istoé

Matéria de Paula Alzugaray originalmente publicada na revista Istoé em 15 de março de 2013.

Uma das mais abrangentes coleções de arte contemporânea latino-americana abre sua sede no Rio de Janeiro, a Casa Daros

Quando, em novembro de 2008, o curador alemão Hans-Michael Herzog declarou em entrevista às páginas vermelhas de IstoÉ que o papel da coleção Daros Latinamerica era reescrever a história da arte, a economia global ainda não havia encontrado uma nova ordem. De lá para cá, vive-se um processo de reposicionamento dos antigos paradigmas de centro e periferia, e a arte contemporânea brasileira tem tido papel de destaque nesse processo. Hoje o Brasil está na mira das grandes grifes da arte, como a galeria americana Gagosian e a inglesa White Cube. Mas o interesse da coleção suíça Daros e de Herzog pela região é anterior a isso. Há 13 anos a Daros, natural de Zurique, na Suíça, vem constituindo uma das mais abrangentes coleções dedicadas à produção artística da América Latina, hoje com mais de 1.100 obras de 116 artistas, realizadas desde a década de 1960 até a atualidade. A coleção não tem similar na Europa. Para contribuir com a difusão e reflexão sobre esse importante acervo e a produção artística da região, a coleção inaugura, no sábado 23, a Casa Daros, em um edifício histórico em Botafogo, no Rio, depois de sete anos de meticulosa obra de restauro e modernização.
A Casa Daros não será a reserva técnica da coleção. Seu projeto é funcionar como plataforma de comunicação entre os países das Américas. “A Casa Daros nasce para divulgar a arte latino-americana, mas, fundamentalmente, como ferramenta de educação e cidadania”, afirma Isabella Rosado Nunes, diretora-geral da instituição. Amostra disso é que, desde que a equipe se instalou em um pequeno anexo ao casarão de monumentais 11 mil metros quadrados, começou a edificar seu projeto de arte-educação com o mesmo esmero que se dedicou à restauração do prédio. Nesses anos, já colocou em prática sua vocação em projetos como o programa “Meridianos”, que promoveu encontros entre dez artistas da coleção, entre eles Julio Le Parc, Iole de Freitas, Lenora de Barros, Carlos Cruz-Diez e Vik Muniz; ou como o ateliê Casinha Daros, oficinas de técnicas pinhole para crianças e jovens do complexo da Maré, realizadas em parceria com o Observatório das Favelas.
A abertura oficial de uma instituição que já mostrou grande capacidade de diálogo e integração com a sociedade local, portanto, é um fato a se comemorar. Suas duas exposições inaugurais são presentes não só para o carioca, mas para todos os latino-americanos. Com curadoria de Hans-Michael Herzog, a exposição “Cantos Cuentos Colombianos” preenche um lacuna de informação e oferece ao público brasileiro uma panorâmica da arte contemporânea colombiana. Já a mostra “Para Saber Escutar”, focada nos estudos do pedagogo brasileiro Paulo Freire e com curadoria do diretor de arte-educação, Eugenio Valdés Figueroa, vem confirmar a vocação da Casa como um espaço de aprendizado.

Nenhum comentário:

Postar um comentário