quarta-feira, 27 de outubro de 2010

Os passos que damos...

Fonte: http://enfermariadecampanha.blogspot.com/2008/05/minha-amiga-instabilidade.html
   A ausência  legitima o instável.  A não-percepção do corpo, dos limites, é que habilita a instabilidade na natureza, seja humana ou não.  E tão real que um chão forrado de tijolos móbiles, pequenos metros quadrados de apropriação cerâmica, nos estimulam a perceber os passos que damos na vida. Esta instalação, na exposição “CorpoCircuito” - de Áurea Madeira - é assim: incrivelmente simples.... e simplesmente incrível. Nos exige o olhar no caminho, nos passos. Nos permite ousar no desequilíbrio, e temer o equilíbrio. Quantos caminhos fáceis nos são cruéis ? E quantos complicados nos são libertadores? Outra obra são peças convexas colocadas sobre uma parede, ambos em branco. Antes de conversar com a artista sobre sua produção e saber que são moldes de joelhos, minha leitura foi de imperfeições em uma parede lisa, representando que nada pode ser plenamente perfeito, e que existe beleza justamente por isso. A terceira obra é uma ode muda à dificuldade: uma cadeira sobre uma pilha alta de tijolinhos, onde sentar se torna quase uma escalada. Na vida encontramos muitas cadeiras assim, às vezes até ocupadas ... Algo a se pensar com seriedade...Já que falamos em pensar, e com seriedade, isto é o que falta em determinados locais de ensino superior federal, onde a percepção da locomoção é no modo ausente. O gratificante na biologia humana é que todos estamos expostos a ter restrições no ir e vir por motivos vários, do assistente de serviços gerais ao diretor efetivo. Que tal exercemos a alteridade e buscarmos mudanças estruturais e arquitetônicas que permitam o livre trânsito de qualquer um, independente do nível de suas funções motoras, nos espaços de estudo? Estável ou Instável,qual será a opção do responsável legal da instituição?

domingo, 17 de outubro de 2010

Arte, logo existo.



    Neste jogo de cartas chamado vida, algumas pessoas saem da mesa cedo demais...Marcantonio Vilaça foi uma delas. Elemento fundamental na projeção da arte contemporânea brasileira  na década de 1990, este galerista  e colecionador foi responsável pela divulgação artística verde-e-amarela  no mercado internacional. Fazendo uma homenagem mais que merecida, o SESI, entidade integrante do Sistema Indústria, criou o Prêmio CNI SESI Marcantonio Vilaça para as Artes Plásticas,  que no período 2009/2010 promove sua 3ª edição.
    Eis os premiados, com as obras em exibição no Museu de Arte Moderna :
 - Armando Queiroz, o artista paraense que desnuda a violência, em vídeo-instalações e peças que raptam os olhos para o absurdo. Que tal observar o mercado Ver-o-Peso de um jeito único? Deliciosamente instigante.
-  Eduardo Berliner, do Rio de Janeiro, apresenta pinturas com bases em imagens fotográficas. Tem seu caderno de desenhos e camêra fotográfica como uma extensão de seus braços, aprecia a bricolagem e acha o mundo um lugar estranho. Um bom adjetivo. Estranho.
- Henrique Oliveira, de São Paulo, traz a poética do orgânico, do efêmero que teima em resistir. A percepção custa a acreditar que são peças produzidas com madeiras velhas, de tão sinuosas e maleáveis que aparentam ser. Também permite a releitura de nossa rigidez interna e de como é possível moldar o que queremos. Aplausos.
- Rosana Ricalde, carioca, é a artista com destaque na mostra de Salvador. Talvez como um presente, já que o mar tão belamente diluído nas suas obras foi de inspiração baiana. Ver suas obras é a redundância de  viajar pelas águas, seja com tipografia ou somente tinta. Suave.
- Yuri Firmeza, paulista cearense,  coloca o público para caminhar em volta de si mesmo sem perceber, forçando o atrito entre  o medo e a curiosidade do desconhecido. É ostensivamente arte política. Protesto aqui, deveria estar na Bienal de São Paulo. Sim, Bi-e-nal.
  Apresentações feitas, agora vamos pensar: se a arte é também como um jogo, então os prêmios de promoção artística são os mais disputados. Na mesa estarão o artista, o curador-crítico-galerista, o público e o espaço. Apostas e blefes vão acontecer, e com trapaças de todos os lados. Felizmente neste jogo nunca existirão vencedores, porque qualquer um que saia da mesa estará levando consigo uma parte necessária e essencial do sentido da arte. Hora de refazer as regras e entender o que significa união.

sábado, 2 de outubro de 2010

De cá para lá, de lá para cá.

Fonte: http://vivamaisviva.blogspot.com/2009/11/navegar-e-preciso.html
          Globalizar é criar transnacionalidades. É quebrar as linhas imaginárias que definem o eu e o outro em ilhas culturais e nos transportar pelo mundo. Que tal ser um Alemão no Chile,  um Francês no Paquistão ou, talvez, um Brasileiro na Islândia? A princípio a barreira que nos separa (quem sabe um dia será a única) é o idioma, tal qual um mar a ser singrado. Embarcando nesta navegação linguística, o Goethe-Institut e parceiros, como a Alliance Française, usam seus navios literatos com a habilidade  de quem sabe o que fazer para transportar conhecimento. Aqui lançou-se o “Salvador – Hamburgo: Passado e Presente da Globalização”, projeto multidisciplinar entre arte e desdobramentos acadêmicos, que permitem embarques e desembarques em portos variados. No da Fotografia é possível  apreciar o trabalho de quatro artistas: Cássio Vasconcellos, Gaio Matos, Bernd Kleinheisterkamp e Olivier Dubuquoy, sendo esta exposição o percentual mais vísivel de todo projeto, como a ponta de um iceberg... Teatro, Moda, Cinema, Literatura, estes se colocam um pouco mais escondidos, dependendo de um mergulho-catálogo para que aconteça a devida apreciação. De qualquer maneira navegar ainda é preciso. Só não sei se Pompeu ou Fernando Pessoa imaginariam o quanto...