“O mar, quando quebra na praia, é bonito, é bonito.” São com as palavras de Dorival Caymmi que principio a falar sobre a exposição de Bel Borba, Saveiros da Baía. A prima impressão ao adentrar o Centro Cultural dos Correios é de desconstrução semioticamente programada. A cada sala, uma parte da embarcação vai refazendo sua história em diferentes linguagens artísticas. Cascos, com marcas de anos de batalha na água, ganham status quo de obra-prima, sob recortes e molduras nobres. Pedaços de saveiros vão se distribuindo em esculturas zoomorfas, ganhando vida em fauna, além da própria vida em flora - quiçá considerando-se a matéria-prima: madeira. A parte mais feminina de todas, as velas, são telas onde a imaginação de Bel segue sua linhas, ilhós e rasgos para conceber o resultado final, pinturas. Somam-se a elas, as partes, outras partes da exposição, em nanquim, traços largos, finos ou quem sabe não-traços, e em negativo vão dando a forma das coisas, humanas. E os painéis em azulejo pintados, que retratam passado e presente em uma só ideia, de onde se sente saudades sempre, de algo até que não se teve. Acostumamos-nos, soteropolitanos, povo, massa, pessoas, a ver Bel Borba em toda parte, em todo dia. Mas desta vez nos é presenteado um desnude, onde o artista vai se desconstruindo junto com sua obra, e nos presenteia com uma sensibilidade que a muito tempo não víamos, desde tempos onde podíamos ouvir o mar quebrar na praia...
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