Matéria de Paula Alzugaray, originalmente publicada na seção de artes visuais da Istoé em 1 de junho de 2012.
Sem ser falsificador profissional, Gustavo von Ha vende desenhos
copiados de Leonilson e de Tarsila do Amaral e discute sistema de
direitos autorais
Gustavo Von Ha - T.L. /Galeria Leme, SP/ até 13/6
Para copiar os 23 desenhos de Tarsila do Amaral (1888-1973) e os 16
de Leonilson (1957-2003) que estão atualmente expostos na Galeria Leme,
em São Paulo, o artista paulista Gustavo von Ha passou meses estudando
os gestos, as técnicas e os traços de cada artista. “Fazendo esse
trabalho, me senti um ator. Para chegar à intensidade empreendida pelos
lápis de cada um deles, tive que forjar uma simulação até mesmo em minha
postura corporal”, afirma Von Ha à Istoé. A exposição denominada “T.L.”
– as iniciais de Tarsila e Leonilson, que algumas vezes assinavam só
com letras – é o resultado de uma pesquisa do artista sobre sistemas de
reprodução de imagem e da arte na atualidade.
Mas os desenhos resultantes dessa pesquisa são muito mais do que
cópias. De fato, seriam apenas cópias, não fosse por um pequeno detalhe:
o artista aplicou-lhes um efeito de espelho e assim as reproduções
aparecem em posição invertida em relação aos originais. A partir desse
gesto simples de inversão, Von Ha garante sua autoria sobre as imagens e
balança um sistema de convicções sobre o estatuto da cópia e da autoria
– e, de quebra, da verdade e da mentira, da ficção e da realidade. Com
isso, entra em sintonia com uma discussão que já data quase 100 anos –
começou com Walter Benjamin e Roland Barthes em meados do século 20 – e
hoje explodiu com as mídias digitais.
“O mundo da lei é muito restrito. Autores como Roland Barthes nos
falam que uma mesma obra, por mais original que seja, nunca é fruto de
uma autoria única. Ela sempre traz outras referências. As leis de
direitos autorais, constituídas no ápice do Iluminismo, pensam o autor
como um sujeito estanque, com direito a proteção a sua propriedade e por
isso são menos dinâmicas”, afirmou Luciana Rangel, advogada
especialista em direitos autorais, convidada a debater com von Ha, no
sábado 26, as mudanças que o conceito de originalidade vem sofrendo em
tempos de reprodução digital.
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