Matéria de Nina Gazire originalmente publicada na seção de artes visuais da Istoé em 25 de maio de 2012
Maurício
Dias e Walter Riedweg - Estranhamente Possível, Museu de Arte Moderna
da Bahia - MAM BA, Salvador, BA - 19/05/2012 a 22/07/2012
Diz-se que a alteridade é uma condição, que define que o homem jamais
poderá se entender como um ser isolado. Ele é sempre um reflexo,
espelhando suas relações e individuações a partir de seu contato com o
exterior, com o outro. A figura do espelho social, no qual as
alteridades são constantemente dadas, é o mote da dupla suíço-brasileira
composta por Maurício Dias e Walter Riedweg. E, para entrar nesse
espelho, os artistas elegeram o vídeo como ferramenta para
experimentações, registros e reflexões sobre o outro.
Na retrospectiva “Estranhamente Possível” pode-se perceber como,
segundo a dupla, a ideia de alteridade é sempre uma referência mutável.
Nos seis trabalhos – videoinstalações, fotografias e performances feitas
entre 2002 e 2012 –, a questão do outro e seus meios é trabalhada em
diferentes âmbitos. Seja explorando as diferenças em culturas distantes,
como em “Juksa”, de 2006, centrado no depoimento dos últimos três
habitantes de uma pequena ilha no Polo Norte, seja em questões de
gênero, como é o caso de “Paraíso Cansado”, em que um experimento
poético é realizado para investigar o turismo sexual nas Ilhas Canárias.
O trabalho mais recente, “Água de Chuva no Mar”, foi produzido este
ano em uma residência artística a convite do MAM-Bahia, em conjunto com a
comunidade do Solar do Unhão, próxima ao museu. Para a realização do
trabalho, os artistas conviveram durante um mês com habitantes dessa
comunidade composta majoritariamente por famílias comandadas por
mulheres. Desde os tempos mais remotos, elas dependeram da fonte de água
do engenho de açúcar, onde hoje está o museu. A história do local é
revivida em depoimentos de lavadeiras, que evocam suas antepassadas.
“Além do trabalho da residência, escolhemos para a exposição obras que
dialogam não só com a comunidade onde o museu está inserido, mas também
com a cidade de Salvador, onde a questão das alteridades sempre esteve
latente” comentam Dias e Riedweg, que se definem mais como “bons contadores de histórias” do que artistas.
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