Uma pensão no largo Dois de Julho, em Salvador, abriga os travestis
que fazem programa nas redondezas. Virgínia Medeiros mergulhou na
história deles e montou um estúdio fotográfico em que retratou esses
personagens em troca de suas histórias.
Seus relatos em vídeo e contos que a artista escreveu estão agora
numa exposição do Paço das Artes, "Metrô de Superfície", uma coletiva de
artistas do Nordeste que despontaram na última década.
Nesse recorte, a indefinição de gêneros surge como um denominador
comum. "São artistas que reinventam a sexualidade, que criam grandes
ficções", resume Clarissa Diniz, curadora da mostra. "Eles fazem
trabalhos emancipadores, de grande fôlego, obras que explodem."
Solange Tô Aberta, banda criada pelo artista Pedro Costa, também
exalta a ideia de gêneros híbridos em letras de funk hedonistas e shows
catárticos que faz pelo mundo.
"Funk é uma forma livre de trabalhar com a música, falar dessa mulher
que goza, não mais submissa", diz Costa num vídeo exibido no Paço. "As
pessoas sofrem quando não estão enquadradas como macho ou como fêmea."
Essa inquietação com o corpo também informa outros trabalhos da
mostra. Rodrigo Braga simula uma cirurgia em que costura o focinho de um
cachorro morto ao próprio rosto, com uma sequência fotográfica da
operação.
Noutra peça desconcertante, Solon Ribeiro projeta fotogramas de
filmes clássicos sobre carcaças de bichos num matadouro e aparece
dançando com pedaços de carne, uma "cena dionisíaca, violenta, que
mistura sangue e morte", nas palavras de Diniz.
Dor é outro ponto de partida. Amanda Melo faz uma performance em que
cobre todo o corpo com fita isolante e caminha pelas ruas, arrancando
depois o plástico num strip-tease às avessas -a imagem de uma
sexualidade em construção.
Saiba mais sobre a exposição: Metrô de superfície