segunda-feira, 7 de outubro de 2013
terça-feira, 17 de setembro de 2013
Expomuseus 2013
I Feira Internacional Online de Equipamentos e Gestão Integral de Museus
Fornecedores de material técnico e empresas de serviços para museus participam da maior feira do setor. Acessem pelo link:
http://www.expomuseus.com/ESP/index.php
quinta-feira, 25 de julho de 2013
Estudo atesta pico de euforia no mercado brasileiro de arte por Silas Martí, Folha de S. Paulo
Estudo atesta pico de euforia no mercado brasileiro de arte por Silas Martí, Folha de S. Paulo
Matéria de Silas Martí originalmente publicada no jornal Folha de S. Paulo em 24 de julho de 2013.
Novos números comprovam a sensação de euforia no mercado de arte
brasileiro, que cresceu 22,5% em 2012, três vezes a média mundial, de
7%, segundo um último levantamento de dados. As galerias de arte
contemporânea chegaram à arrecadação de R$ 250 milhões ao ano, enquanto
preços de obras subiram em média 15%, bem acima da inflação do período.
Outro dado também surpreende. Segundo um relatório da secretaria
paulista da Fazenda obtido pela Folha, a última edição da feira SP-Arte,
em abril, declarou R$ 99 milhões em vendas, mais do que o dobro de
2012, quando registrou R$ 49 milhões.
Essa é apenas uma fração do total dos negócios da feira, já que só as
comercializações com isenção de impostos estaduais --no caso, as vendas
de algumas obras importadas-- precisam ser declaradas dessa forma. O
faturamento total pode ter superado R$ 300 milhões porque essas
transações respondem por pouco menos de um terço do total das galerias.
Números do estudo mais recente do projeto Latitude, que reúne a
Agência Brasileira de Promoção de Exportações e a Associação Brasileira
de Arte Contemporânea, obtidos com exclusividade pela Folha, também
mostram que o mercado brasileiro está mais internacional, com artistas
estrangeiros representando 22,5% dos times das maiores galerias
nacionais.
Mas galeristas e agentes de mercado relutam em estourar garrafas de champanhe.
"As vendas têm sido bem firmes, mas é fato que o gelo da festa
acabou", diz Marcia Fortes, sócia da galeria Fortes Vilaça. "Artistas
jovens no Brasil custam muito caro, então a tendência é estabilizar."
Ou seja, após atingir um pico, o mercado está mais maduro, com
crescimento "consistente e linear", segundo Ana Letícia Fialho, do
projeto Latitude. Mas galeristas preveem uma desaceleração.
COMPASSO DE ESPERA
Num cenário político e macroeconômico conturbado, com o dólar em
disparada, manifestações nas ruas e debandada de investimentos
estrangeiros, colecionadores têm ficado mais reticentes.
"Existe um compasso de espera agora", diz André Millan, um dos donos
da galeria Millan. "É lógico que as vendas estão caindo. As pessoas
estavam comprando trabalhos como se fossem caixas de Bis. Agora há um
tom de reclamação entre as galerias, não a euforia sem sentido."
Mas se o Brasil desacelera, uma saída é o mercado estrangeiro.
Segundo dados do Latitude, que serão divulgados na quinta-feira (25), só
11,5% dos clientes das galerias do país são estrangeiros, mas 50%
dessas casas participam de feiras no exterior e 30% têm parcerias com
casas de fora.
"Galerias estão vendo a internacionalização como estratégia de
sobrevivência, para quando o mercado interno não estiver tão dinâmico",
diz Monica Esmanhotto, gerente executiva do Latitude. "Estava todo mundo
acomodado, e agora vemos as galerias saírem da zona de conforto."
Outros agentes de mercado também devem se mexer.
Jones Bergamin, da Bolsa de Arte, a maior casa de leilões do Brasil,
afirma que o setor não deve sofrer uma queda brusca nas vendas, mas
precisa lidar agora com a escassez de obras-primas na praça, as chamadas
"blue chip", que são vendidas com facilidade mesmo em momentos mais
turbulentos.
Um exemplo é uma tela de Adriana Varejão leiloada neste mês --com
lance inicial de R$ 700 mil, a peça foi arrematada depois por R$ 1,5
milhão.
"Uma obra-prima tem liquidez imediata, é fácil vender", diz a
consultora de arte Cecília Ribeiro. "Mas o problema, agora, é que não
estão aparecendo essas coisas excepcionais no mercado.
segunda-feira, 22 de julho de 2013
Artistas internacionais apresentam portfolios no MAM-BA
Na próxima quarta-feira, 24, o Instituto Sacatar e o Atelier Coletivo VISIO. realizam a V Mostra Internacional de Portfolios, em parceria com o Museu de Arte Moderna da Bahia (MAM-BA). O evento é gratuito e contará com a presença dos artistas selecionados, a partir das 14h, no Cinema do MAM.
Nesta quinta edição, o Instituto Sacatar e o VISIO. trazem o dançarino e coreógrafo Anani Sanouvi (Togo), a fotógrafa Mimi Ng’ok (Quênia), a curadora Bisi Silva (Nigéria) e os artistas visuais April Banks (EUA), Mark Greenfield (EUA) e William Wilson
(França) para apresentar seus trabalhos anteriores e os projetos que
pretendem realizar durante a residência artística em Itaparica neste
segundo semestre.
Andrea May, que integra o projeto
VISIO., afirma que a importância do evento está em “intercambiar esses
artistas que estão vindo do exterior – que é a maioria deles – com os
artistas locais, com a classe e com a imprensa”. Mediado pela artista
visual Eneida Sanches, a mostra propõe um formato dinâmico, onde as
falas e experiências dos convidados se alternam com questionamentos do
público e projeções de seus portfolios.
V Mostra Internacional de Portfolios
Quando: quarta-feira, 24/07, às 14h
Onde: Cinema do MAM (Solar do Unhão)
Gratuito
Apoio cultural: La Abuela
Mais informações: Atelier Coletivo VISIO. e Instituto Sacatar
Prêmio Funarte Mulheres nas Artes Visuais 2013 - Inscrições
O Prêmio Funarte Mulheres nas Artes Visuais tem por objetivo
selecionar projetos de proponentes do sexo feminino, em âmbito nacional,
que visem à prática de linguagens artísticas, à reflexão crítica e à
profissionalização dos processos de gestão cultural. Realizado pela
Fundação Nacional de Artes – Funarte, em parceria com o Ministério da
Cultura e com a Secretaria de Políticas para as Mulheres, o edital
pretende contribuir para o fomento e a difusão da expressão artística
considerando o reconhecimento das mulheres nas artes visuais. Serão
contemplados dez projetos com premiações de R$ 70 mil para cada um. O
investimento total é de R$ 744.200,00.
http://www.funarte.gov.br/
http://www.funarte.gov.br/
terça-feira, 25 de junho de 2013
quarta-feira, 12 de junho de 2013
Senado aprova lei que destina a museus obras de arte apreendidas pela Receita por Silas Martí, Folha de S. Paulo
Matéria de Silas Martí originalmente publicada no jornal Folha de S. Paulo em 7 de junho de 2013.
Um projeto de lei que pretende destinar bens culturais apreendidos
pela Receita Federal a acervos de museus foi aprovado nesta semana pela
Comissão de Educação, Cultura e Esporte do Senado. Se não houver
recursos, a proposta PLC 97/2011 deverá seguir direto para sanção da
presidente Dilma Rousseff.
Se aprovada, a medida pode pôr fim ao impasse de obras apreendidas
pela Receita Federal e que hoje estão sob custódia provisória de museus
públicos, como a coleção do ex-banqueiro Edemar Cid Ferreira, espalhada
por museus de São Paulo.
Alvo de uma investigação por lavagem de dinheiro, o dono do Banco
Santos teve apreendido seu acervo com obras de artistas como Joaquín
Torres-García, Roy Lichtenstein e Fernand Léger.
Desde que peças nessa situação foram destinadas a espaços públicos
como o Museu de Arte Contemporânea da USP, em São Paulo, ou o Museu
Nacional de Belas Artes, no Rio, há um debate sobre que destino devem
ter essas peças, já que durante a investigação os custos de restauro e
manutenção das obras foi bancado pelo Estado.
A medida foi apresentada na Câmara pela deputada Alice Portugal
(PCdoB-BA) há dois anos e passou agora por análise da senadora Lídice da
Mata (PSB-BA).
terça-feira, 28 de maio de 2013
Intervenções artísticas na Virada tentam destacar rostos no anonimato por Silas Martí, Folha de S. Paulo
Matéria de Silas Martí originalmente publicada no jornal Folha de S. Paulo em 19 de maio de 2013.
Mesmo que o centro de São Paulo seja cheio de museus e galerias de
arte, como a Pinacoteca do Estado, o Centro Cultural Banco do Brasil e a
Caixa Cultural, a Virada Cultural deste ano levou para as ruas uma
série de intervenções artísticas luminosas e chamativas.
No vale do Anhangabaú, onde se concentrou boa parte delas, o grupo
Bijari construiu uma ponte metálica forrada de luzes vermelhas e
brancas. Quanto mais gente atravessasse de um lado para o outro, mais
vermelha ela deveria ficar, respondendo ao fluxo intenso do movimento na
Virada.
"É experimentar a arquitetura com o corpo", resume Rodrigo Brandão, um
dos integrantes do Bijari. "Esse corte no percurso entre o vale do
Anhangabaú e a avenida São João é um erro urbanístico. Quisemos criar
aqui um atalho."
Embora o atalho funcionasse na hora de cortar caminho, não ficou tão
clara a dinâmica das cores. Na noite de sábado, a ponte parecia piscar
de forma aleatória, como uma árvore de Natal desregulada, sem responder
de fato aos estímulos de quem passava por ali. De qualquer forma, servia
para iluminar uma cicatriz do tecido urbano da cidade, o vale que, em
vez de abrigar o movimento que recebe na Virada, costuma estar
abandonado e escuro.
Outro ponto do projeto era lembrar que, por baixo do asfalto do vale,
passa o rio Anhangabaú canalizado, como se os artistas despertassem ali
parte da memória da cidade. "Isso lida um pouco com a opacidade de São
Paulo, como as coisas são desqualificadas e requalificadas", diz Giselle
Beiguelman, curadora de artes visuais desta Virada. "Misturar tudo isso
aqui era um desafio interessante."
Mais adiante, também no Anhangabaú, pessoas faziam fila para entrar em
duas cabines, uma com luzes azuis e outra avermelhada, para conversar
on-line com alguém que entrasse na cabine em frente, com o detalhe que
toda a conversa seria projetada em tempo real na empena cega de um
prédio.
"É diferente, parece que mistura a internet com uma construção de
relacionamentos", diz a enfermeira Letícia Silva, que saía de uma
cabine. "Você está isolado e ao mesmo tempo exposto, mas não dá tempo de
dizer muita coisa em cinco minutos, é só uma apresentação."
Na mesma pegada de identificar rostos no anonimato da multidão, outro
projeto estampava na fachada do prédio da prefeitura um monte de gente
fazendo gracinhas diante da câmera. Eram imagens que revezavam com a
visão de onomatopeias de histórias em quadrinhos também exibidas ali,
sem muito nexo.
Enquanto alguns projetos focavam o rosto de quem passava pela Virada,
outro quis mostrar o que pensam. Numa empena cega do Anhangabaú, imagens
garimpadas do Google eram projetadas de acordo com palavras-chave
enviadas pelos frequentadores da festa via celular.
Bastaram cinco minutos diante da obra para ver que muita gente tinha
fixação por passistas de escola de samba, o ministro do Supremo Tribunal
Federal Joaquim Barbosa, Lady Gaga, beijos entre pessoas do mesmo sexo,
Raul Seixas, Marilyn Monroe e Lady Di.
"Sempre tem jogadores de futebol, lugares bonitos, artistas, músicos",
diz Rachel Rosalen, artista que assina o projeto já apresentado em Roma,
no Rio, em Basileia e Natal, com Rafael Marchetti. "Estávamos com muita
expectativa para ver o que aconteceria aqui."
Algumas quadras distante dali, no Palácio da Justiça, uma instalação
menos tecnológica chamava atenção. Na sala dos Passos Perdidos, onde
acusados aguardam a sentença que será proferida pelo júri, os artistas
Rejane Cantoni, Leonardo Crescenti e Raquel Kogan instalaram placas de
plástico espelhado que criam um reflexo parecido com uma superfície
aquática na arquitetura rígida de Ramos de Azevedo, que projetou o
prédio público.
"É aquela luz que você vê quando está dentro de uma piscina", diz
Cantoni. "Ela tem esse ar de piscina congelada, é uma máquina ótica",
completa Crescenti. Em turnos de 50 pessoas, e depois de passar por
detectores de metal, o público podia se jogar nas placas de plástico.
Por volta das 21h deste sábado (18), muitos davam cambalhotas, fingiam
mergulhar e treinavam passinhos de dança sobre o tablado de água de
mentira. "O que é mais legal é eles se apropriarem de um prédio que as
pessoas não conhecem", dizia o jornalista Paco Sampaio, deitado sobre a
obra. "É algo bonito e ao mesmo tempo poético", acrescentou seu amigo, o
cenógrafo Tobias Nunnes.
Pelo menos até 22h do sábado, era possível visitar todas as instalações
de artes visuais da Virada Cultural sem tumultos ou qualquer
dificuldade. Ruas no trajeto estavam limpas e sem sinal de problemas com
segurança.
segunda-feira, 20 de maio de 2013
sexta-feira, 17 de maio de 2013
sexta-feira, 3 de maio de 2013
Artes visuais a caminho da TV aberta por Renato Contente, Jornal do Commercio
Matéria de Renato Contente originalmente publicada no Caderno C do Jornal do Commercio em 26 de abril de 2013.
Série "Brasil visual", com previsão de estreia para o
próximo ano, na TV Brasil, vai trazer 13 episódios sobre a arte
brasileira contemporânea
Ao invés das molduras convencionais que protegem as obras de arte, os
contornos de uma televisão ou de um monitor de computador. Dos museus
às salas de estar, o universo brasileiro das artes visuais vai ganhar
espaço na TV aberta dentro da série de documentários Brasil visual,
atualmente em fase de gravação e com previsão de estreia para o início
do próximo ano, na TV Brasil. O programa, idealizado pela produtora
pernambucana Rosa Melo e desenvolvido em parceria com a cineasta carioca
Anna Azevedo, tem como objetivo traçar um panorama da cena artística
contemporânea do Norte ao Sul do Brasil.
A primeira temporada do projeto será apresentada pelo artista
performático multimídia Rodrigo Saad, o Cabelo, e conta com programação
visual dos artistas plásticos Lia Letícia e Fernando Peres. Em 13
episódios de 26 minutos, o público vai entrar em contato com o mundo das
artes visuais em seus principais expoentes de diversas gerações,
abrangendo variadas expressões artísticas: da instalação ao grafite,
transitando entre pintura, gravura, site specific (quando o local da
exposição faz parte da obra), videoarte, intervenção urbana, escultura e
body art.
Rosa, produtora de exposições de Paulo Bruscky e do curta Texas Hotel
(Cláudio Assis), adianta que o formato da atração não será como os
habituais almanaques televisivos. “O programa vem em um formato
diferenciado, mesclando documentário e jornalismo, com um olhar sensível
sobre os temas abordados. Além de ser uma série dedicada aos artistas
visuais brasileiros, vamos discutir questões relacionadas à produção de
arte contemporânea no País. Estamos viajando por vários Estados para
conferir de perto o que está acontecendo, conhecer as novidades para
apresentá-las ao público”, explica.
Diretoras e roteiristas da série, Rosa Melo e Anna Azevedo acabaram
de cumprir uma temporada de pesquisas no Nordeste. A dupla esteve em
Pernambuco, Ceará, Rio Grande do Norte e Paraíba entrevistando artistas
como Paulo Bruscky, Daniel Santiago, Thelmo Cristovam, Ricardo
Brasileiro, Ricardo Ruiz, Dyogenes Chaves, Zé Rufino, Falves Silva,
Guaracy Gabriel, Zé Tarcísio, Solon Ribeiro, Luciana Magno, Waléria Américo e Lourival Cuquinha.
O primeiro episódio será focado na arte-correio (ou arte-postal), uma
forma de arte que utiliza a postagem de obras e a interferência de
outros artistas como processo de criação. Nomes consagrados do gênero,
os pernambucanos Paulo Bruscky e Daniel Santiago serão os principais
entrevistados do programa de estreia.
quinta-feira, 25 de abril de 2013
Bienal de Veneza destacará os brasileiros Tamar Guimarães e Paulo Nazareth por Silas Martí, Folha de S. Paulo
Bienal de Veneza destacará os brasileiros Tamar Guimarães e Paulo Nazareth
Matéria de Silas Martí originalmente publicada no jornal Folha de S. Paulo em 23 de abril de 2013.
Paulo Nazareth está 'reinventando a performance' com caminhadas.
Obra de Tamar Guimarães se constrói a partir de 'pensamento nômade'.
Ela faz filmes e projeções de slides que embaralham realidade e
ficção. Ele faz da vida uma performance e desaparece meses a fio para
construir seus trabalhos. Tamar Guimarães e Paulo Nazareth são os dois
artistas brasileiros, além de Arthur Bispo do Rosário, morto em 1989,
escalados para a mostra principal da Bienal de Veneza, que começa em
junho deste ano.
Tanto ela quanto ele nasceram em Minas Gerais e ganharam o mundo,
conquistando curadores como Hans Ulrich Obrist (que levou obras dos dois
à sua mostra na Casa de Vidro, em São Paulo), Adriano Pedrosa (que
trabalhou com Guimarães em seu Panorama da Arte Brasileira em 2009), e
Gunnar Kvaran, que chamou Nazareth para a próxima Bienal de Lyon.
Guimarães, que vive e trabalha em Copenhague, na Dinamarca, chama a
atenção pela construção cuidadosa de diálogos e enredos em seus
filmes-obras, quase todos calcados em clássicos da literatura, da
filosofia e do cinema. Há quase três décadas fora do país, Guimarães tem
o que alguns críticos chamam de "olhar forasteiro" para temas do
Brasil.
Nazareth não tem ateliê fixo em lugar nenhum. É famoso pela
performance em que andou de Minas Gerais até Miami e agora se prepara
para caminhar, em seu próximo projeto, da África do Sul até a França.
RAIO-X
TAMAR GUIMARÃES
VIDA
Nasceu em Belo Horizonte, em 1967. Vive e trabalha em Copenhague
Nasceu em Belo Horizonte, em 1967. Vive e trabalha em Copenhague
CARREIRA E OBRA
Esteve no Panorama da Arte Brasileira, no MAM-SP em 2009, participou da Bienal de São Paulo em 2010 e da Bienal de Charjah deste ano
Esteve no Panorama da Arte Brasileira, no MAM-SP em 2009, participou da Bienal de São Paulo em 2010 e da Bienal de Charjah deste ano
PAULO NAZARETH
VIDA
Nasceu em Governador Valadares (MG), em 1977
Nasceu em Governador Valadares (MG), em 1977
CARREIRA E OBRA
Sua performance "Noticias de América", em que caminhou de Minas Gerais a Miami, esteve na Art Basel Miami Beach. Ele estará nas bienais de Veneza e Lyon deste ano
Sua performance "Noticias de América", em que caminhou de Minas Gerais a Miami, esteve na Art Basel Miami Beach. Ele estará nas bienais de Veneza e Lyon deste ano
terça-feira, 23 de abril de 2013
segunda-feira, 22 de abril de 2013
Tadeu Chiarelli: “O MAC não precisa de mostras arrasa-quarteirões” por Daniel Salles, Época São Paulo
Entrevista de Daniel Salles originalmente publicada na revista Época São Paulo em 16 de abril de 2013.
O diretor do Museu de Arte Contemporânea fala sobre as
vantagens e os desafios da ligação com a USP e explica por que a nova
sede ainda está praticamente vazia
O mandato de Tadeu Chiarelli como diretor do Museu de Arte
Contemporânea da USP (MAC-USP) coincidiu com um dos capítulos mais
importantes da instituição. Empossado em 2010, coube a ele comandar a
esperada transferência para a nova sede, o antigo prédio do Detran, no
Ibirapuera. Reinaugurado, no entanto, em janeiro de 2012, após uma
reforma que custou R$ 76 milhões, o edifício projetado por Oscar
Niemeyer ainda está praticamente vazio. Dos sete andares, apenas o
térreo e o mezanino abrigam obras – a maioria doada ao MAC na gestão de
Chiarelli. Uma construção anexa acolhe desde 9 de março duas mostras
temporárias.
A razão para a demora da ocupação do resto do prédio é a falta de um
sistema de segurança adequado, crucial para proteger uma das mais
importantes coleções de arte do Brasil. Criado em 1963, o museu tem mais
de 10 mil obras assinadas por nomes como Pablo Picasso, Amedeo
Modigliani e Tarsila do Amaral. “Não posso levar uma tela de Picasso
para um prédio inseguro”, afirma Chiarelli. Apenas o sétiMo andar está
funcionando, com as exposições o Antes, o Agora: uma síntese do acervo
do MAC-USP, com 85 joias do acervo, e Di Humanista, com 67 obras do
pintor Di Cavalcanti. Um sistema provisório foi desenhado para garantir a
segurança das peças.
Paulista de Ribeirão Preto, Chiarelli é crítico de arte e professor
da Escola de Comunicação e Artes da USP. Entre 1996 e 2000, como
curador-chefe do Museu de Arte Moderna de São Paulo (MAM), ajudou a
torná-lo uma das instituições culturais mais relevantes do país. Ele
falou a Época SÃO PAULO no térreo do MAC. Mais de uma vez interrompeu a
entrevista. Não por descortesia, mas para cumprimentar visitantes e
ouvir a opinião deles sobre o museu.
O que falta para ocupar completamente a nova sede do MAC?
O último compromisso da Secretaria de Cultura, que doou e reformou o antigo prédio do Detran, construído em 1954, é a instalação de todo o sistema de segurança do museu. Inclui desde catracas e câmeras de TV até computadores e os walkie-talkies dos funcionários. É um projeto vultoso, que demandou uma licitação. Cinco ou seis tentativas foram feitas em 2012. Em vão. A última foi questionada na Justiça em outubro por uma das empresas interessadas. O julgamento, porém, ocorreu em fevereiro. E o jogo recomeçou só no dia 19 de março. Em janeiro, no entanto, decidiu-se que a total ocupação do museu, que completa 50 anos neste ano, vai ocorrer de qualquer jeito. No dia 6 de abril inauguramos o sétimo andar com um esquema de segurança montado pela USP exclusivo para as obras ali expostas. A estratégia será replicada no sexto andar em maio, caso a licitação ainda estiver emperrada. E no mês seguinte no piso de baixo, e daí por diante. Se nada der errado, o museu estará 100% ocupado em outubro. Os prazos para a conclusão do estacionamento, da cafeteria e do restaurante, na cobertura, são incertos, pois dependem de outras licitações.
O último compromisso da Secretaria de Cultura, que doou e reformou o antigo prédio do Detran, construído em 1954, é a instalação de todo o sistema de segurança do museu. Inclui desde catracas e câmeras de TV até computadores e os walkie-talkies dos funcionários. É um projeto vultoso, que demandou uma licitação. Cinco ou seis tentativas foram feitas em 2012. Em vão. A última foi questionada na Justiça em outubro por uma das empresas interessadas. O julgamento, porém, ocorreu em fevereiro. E o jogo recomeçou só no dia 19 de março. Em janeiro, no entanto, decidiu-se que a total ocupação do museu, que completa 50 anos neste ano, vai ocorrer de qualquer jeito. No dia 6 de abril inauguramos o sétimo andar com um esquema de segurança montado pela USP exclusivo para as obras ali expostas. A estratégia será replicada no sexto andar em maio, caso a licitação ainda estiver emperrada. E no mês seguinte no piso de baixo, e daí por diante. Se nada der errado, o museu estará 100% ocupado em outubro. Os prazos para a conclusão do estacionamento, da cafeteria e do restaurante, na cobertura, são incertos, pois dependem de outras licitações.
O acervo completo do MAC caberá no prédio novo?
Quando fui contar as obras selecionadas para a mostra do sétimo andar, levei um susto. São pouco mais de 80 (risos). Isso porque há várias peças muito grandes. E que demandam um entorno livre para o que público possa apreciá-las. No total, vai dar para expor ao mesmo tempo cerca de 2 mil das mais de 10 mil obras do acervo. A realidade da maioria dos museus é parecida. O que é bacana, pois permite que as exposições mudem com frequência e o público volte mais vezes. E, vamos combinar, 2 mil obras não é pouca coisa.
Quando fui contar as obras selecionadas para a mostra do sétimo andar, levei um susto. São pouco mais de 80 (risos). Isso porque há várias peças muito grandes. E que demandam um entorno livre para o que público possa apreciá-las. No total, vai dar para expor ao mesmo tempo cerca de 2 mil das mais de 10 mil obras do acervo. A realidade da maioria dos museus é parecida. O que é bacana, pois permite que as exposições mudem com frequência e o público volte mais vezes. E, vamos combinar, 2 mil obras não é pouca coisa.
Quais peças são mais significativas?
Resisto muito a responder isso. Porque temos várias obras excelentes. O único autorretrato do Amedeo Modigliani, um dos artistas mais aclamados do século XX, está aqui. Temos trabalhos de Pablo Picasso, de Giorgio de Chirico… Mas não vou simplesmente ratificar o valor desses artistas. Minha intenção é mostrar as obras deles ao lado de nomes da nova geração, para que o público possa compará-los.
Resisto muito a responder isso. Porque temos várias obras excelentes. O único autorretrato do Amedeo Modigliani, um dos artistas mais aclamados do século XX, está aqui. Temos trabalhos de Pablo Picasso, de Giorgio de Chirico… Mas não vou simplesmente ratificar o valor desses artistas. Minha intenção é mostrar as obras deles ao lado de nomes da nova geração, para que o público possa compará-los.
O que é mais complicado, dirigir o MAC ou o MAM?
Comandar o MAC é mais complexo. Por ser ligado ao Estado e a uma universidade pública, a burocracia é imensa. Um exemplo do que isso significa: uma coletânea de textos de alunos da USP sobre obras do museu foi concluída em setembro e ainda não pôde ser publicada. Por que, se eu tenho dinheiro para isso? Porque há uma regra que me proíbe de lançar um livro agora, um catálogo amanhã e um folder daqui a uma semana. Devo juntar tudo para usar a verba destinada a publicações, que é de R$ 8 mil, de uma só vez. Logo a coletânea vai ficar para o próximo semestre, para coincidir com a conclusão de outros livros. Outro entrave: não posso buscar doações a qualquer hora. A solução é esperar ocorrer uma exposição que inclua uma verba para a coleta de obras e aproveitar para recolher as doações. Pode levar meses. É isso ou abrir um pregão. Num museu como o MAM, onde não é preciso prestar conta de gastos, a agilidade é muito maior.
Comandar o MAC é mais complexo. Por ser ligado ao Estado e a uma universidade pública, a burocracia é imensa. Um exemplo do que isso significa: uma coletânea de textos de alunos da USP sobre obras do museu foi concluída em setembro e ainda não pôde ser publicada. Por que, se eu tenho dinheiro para isso? Porque há uma regra que me proíbe de lançar um livro agora, um catálogo amanhã e um folder daqui a uma semana. Devo juntar tudo para usar a verba destinada a publicações, que é de R$ 8 mil, de uma só vez. Logo a coletânea vai ficar para o próximo semestre, para coincidir com a conclusão de outros livros. Outro entrave: não posso buscar doações a qualquer hora. A solução é esperar ocorrer uma exposição que inclua uma verba para a coleta de obras e aproveitar para recolher as doações. Pode levar meses. É isso ou abrir um pregão. Num museu como o MAM, onde não é preciso prestar conta de gastos, a agilidade é muito maior.
Se pudesse mudar as regras do jogo, o que alteraria no estatuto do MAC?
Um problema que não consegui solucionar é a proibição de comprar obras de arte. Essa regra é absurda. Para uma instituição como essa, ampliar o acervo com produções novas é importantíssimo. Muita gente acha que arte contemporânea boa é a que está nas galerias. Não é verdade, pois muitos bons nomes ficam de fora. Mas estou de mãos atadas, pois a USP e o governo estadual não entendem que não dá para abrir um pregão para comprar obras de arte. As peças escolhidas devem ser as melhores, e não as mais baratas. O que o MAC pode fazer é criar uma lista de obras de seu interesse e chancelá-la no Ministério da Cultura. Com isso, a associação de amigos do museu, composta por voluntários, pode ir à campo atrás de doações para comprar essas obras. O que mais tenho feito, no entanto, é pedir doações a artistas, galeristas e colecionadores. A quantidade de nãos que recebi é ínfima (na gestão de Chiarelli,115 peças foram doadas ao MAC). As pessoas se sentem muito honradas de fazer parte do museu.
Um problema que não consegui solucionar é a proibição de comprar obras de arte. Essa regra é absurda. Para uma instituição como essa, ampliar o acervo com produções novas é importantíssimo. Muita gente acha que arte contemporânea boa é a que está nas galerias. Não é verdade, pois muitos bons nomes ficam de fora. Mas estou de mãos atadas, pois a USP e o governo estadual não entendem que não dá para abrir um pregão para comprar obras de arte. As peças escolhidas devem ser as melhores, e não as mais baratas. O que o MAC pode fazer é criar uma lista de obras de seu interesse e chancelá-la no Ministério da Cultura. Com isso, a associação de amigos do museu, composta por voluntários, pode ir à campo atrás de doações para comprar essas obras. O que mais tenho feito, no entanto, é pedir doações a artistas, galeristas e colecionadores. A quantidade de nãos que recebi é ínfima (na gestão de Chiarelli,115 peças foram doadas ao MAC). As pessoas se sentem muito honradas de fazer parte do museu.
Há alguma vantagem na ligação do museu com a USP?
Sim, claro. A principal delas é me permitir expor só o que quero e a hora que quero. Não preciso fazer mostras arrasa-quarteirões, aquelas que atraem muita gente, não necessariamente pela qualidade, apenas para agradar patrocinadores e pagar a conta de água. Isso está garantido pela USP. Volta e meia recebo e-mails assim: “Prezado professor, estamos lançando um carro e gostaríamos de alugar o térreo e o entorno do edifício”. São propostas ofensivas. Implicam retirar todas as obras que estão em exibição pública. Felizmente, o museu sobrevive sem elas. Poderia passar a minha vida expondo só a nossa coleção.
Sim, claro. A principal delas é me permitir expor só o que quero e a hora que quero. Não preciso fazer mostras arrasa-quarteirões, aquelas que atraem muita gente, não necessariamente pela qualidade, apenas para agradar patrocinadores e pagar a conta de água. Isso está garantido pela USP. Volta e meia recebo e-mails assim: “Prezado professor, estamos lançando um carro e gostaríamos de alugar o térreo e o entorno do edifício”. São propostas ofensivas. Implicam retirar todas as obras que estão em exibição pública. Felizmente, o museu sobrevive sem elas. Poderia passar a minha vida expondo só a nossa coleção.
O MAC é mais conhecido por suas obras do período moderno. Os trabalhos contemporâneos são minoria?
O acervo inicial (criado a partir da coleção do MAM, doada à USP pelo industrial e mecenas Ciccillo Matarazzo) obviamente é importantíssimo. Mas o museu também formou, entre os anos 1960 e 1980, a maior coleção de arte conceitual do país. Isso ainda não foi reconhecido. Só do português Artur Barrio, um artista superbadalado internacionalmente, temos seis ou sete obras. (Chiarelli interrompe a entrevista para abordar três visitantes que se encaminham para a saída: “Vocês viram a exposição do Carlito Carvalhosa e do Mauro Restiffe no prédio anexo?”. Eles não tinham visto. “São a cereja do bolo, mas estão meio escondidas. Voltem quando quiserem”.) Desculpe, me perdi.
O acervo inicial (criado a partir da coleção do MAM, doada à USP pelo industrial e mecenas Ciccillo Matarazzo) obviamente é importantíssimo. Mas o museu também formou, entre os anos 1960 e 1980, a maior coleção de arte conceitual do país. Isso ainda não foi reconhecido. Só do português Artur Barrio, um artista superbadalado internacionalmente, temos seis ou sete obras. (Chiarelli interrompe a entrevista para abordar três visitantes que se encaminham para a saída: “Vocês viram a exposição do Carlito Carvalhosa e do Mauro Restiffe no prédio anexo?”. Eles não tinham visto. “São a cereja do bolo, mas estão meio escondidas. Voltem quando quiserem”.) Desculpe, me perdi.
Você falava sobre os exemplares da arte conceitual.
Pois então, essas obras provam que o acervo do MAC também é contemporâneo. A partir dos 1990, no entanto, ele começou a ficar um pouco defasado em relação ao que é produzido hoje em dia. É isso que tenho buscado corrigir com as doações.
Pois então, essas obras provam que o acervo do MAC também é contemporâneo. A partir dos 1990, no entanto, ele começou a ficar um pouco defasado em relação ao que é produzido hoje em dia. É isso que tenho buscado corrigir com as doações.
Quantas pessoas já visitaram a nova sede do MAC?
Recebemos uma média de 26 pessoas por hora (o saldo de 2012 foi de 21.890 visitantes). Para um museu que ainda está em fase de implantação, isso é mais do que fantástico.
Recebemos uma média de 26 pessoas por hora (o saldo de 2012 foi de 21.890 visitantes). Para um museu que ainda está em fase de implantação, isso é mais do que fantástico.
Desanima saber que o Masp recebeu 851 mil visitantes no ano passado?
Bater recorde de visitação não me preocupa. Nem à universidade. Não estou dizendo que não quero receber mais gente. Mas o foco é garantir que o público volte. A maneira de fazer isso é enfatizar a coleção permanente. Para encher isso aqui de gente, bastaria organizar exposições arrasa-quarteirões de tempos em tempos. Mas isso nos transformaria num mero espaço de lazer, como um shopping ou uma feirinha de artesanato. O museu também pode ser considerado um espaço de lazer. Mas ele é acima de tudo um local de discussão. Sem essa pretensão, melhor entregar os pontos e fazer outra coisa.
Bater recorde de visitação não me preocupa. Nem à universidade. Não estou dizendo que não quero receber mais gente. Mas o foco é garantir que o público volte. A maneira de fazer isso é enfatizar a coleção permanente. Para encher isso aqui de gente, bastaria organizar exposições arrasa-quarteirões de tempos em tempos. Mas isso nos transformaria num mero espaço de lazer, como um shopping ou uma feirinha de artesanato. O museu também pode ser considerado um espaço de lazer. Mas ele é acima de tudo um local de discussão. Sem essa pretensão, melhor entregar os pontos e fazer outra coisa.
Seu mandato termina em abril do ano que vem. Não te aflige a hipótese de sair antes de concluir a ocupação?
Sinceramente, sabe que não? Por mais que goste daqui, acho que está chegando a hora de passar o posto. Me vejo como uma parte de uma cadeia. Dois ex-professores meus da Escola de Comunicação e Artes da USP dirigiram o MAC, o Walter Zanini, já falecido, e o Teixeira Coelho, hoje à frente do Masp. Considero vários de meus alunos, hoje na faixa dos 30 anos, como sucessores em potencial. Contribuí com o que pude. Agora estou doido para voltar a estudar.
Sinceramente, sabe que não? Por mais que goste daqui, acho que está chegando a hora de passar o posto. Me vejo como uma parte de uma cadeia. Dois ex-professores meus da Escola de Comunicação e Artes da USP dirigiram o MAC, o Walter Zanini, já falecido, e o Teixeira Coelho, hoje à frente do Masp. Considero vários de meus alunos, hoje na faixa dos 30 anos, como sucessores em potencial. Contribuí com o que pude. Agora estou doido para voltar a estudar.
Como foi trabalhar com a Milú Villela, presidente do MAM desde 1994?
Hoje é impossível falar sobre a história da arte brasileira sem citar o MAM. Trabalhei muito para isso, mas jamais teria conseguido sem a Milú. Ela é uma das pessoas mais generosas que conheci. O Brasil seria um país bem melhor se existissem por aqui outras 15 pessoas como ela.
Hoje é impossível falar sobre a história da arte brasileira sem citar o MAM. Trabalhei muito para isso, mas jamais teria conseguido sem a Milú. Ela é uma das pessoas mais generosas que conheci. O Brasil seria um país bem melhor se existissem por aqui outras 15 pessoas como ela.
segunda-feira, 15 de abril de 2013
Por Almandrade
Um texto de Almandrade, enviado pelo artista para o Coletivo Maria Vernissage. Já foi publicado em outras mídias, mas aqui está com o conteúdo integral. Obrigada pelo carinho, Almandrade!
VANGUARDA E CONTEMPORANEIDADE
(BREVE RELATO DO CIRCUITO DE ARTE NA BAHIA)
A história da arte dá conta apenas do que acontece nos centros. Aliás, a arte sempre dependeu dos centros culturais de informação e divulgação, com algumas raras exceções. No Brasil, não se tem uma informação menos apressada do que acontece nas outras regiões. É sempre um olhar à distância, que vê apenas o regional e o exótico, principalmente em se falando de arte contemporânea. De um lado, defrontamos com o descrédito dos grandes centros e suas instituições, críticos, curadores, marchands etc. com relação ao que se produz na periferia. De outro lado, convivemos ainda com comportamentos no meio de arte e uma produção dominante defasada diante das questões atuais que preocupam o fazer artístico. Como diz o manifesto "Arte/Bahia/ estagnação" de 1976, assinado por mim e pelo crítico Haroldo Cajazeira: "...A situação da arte na Bahia estagnou-se nas propostas da década de 60..., não havendo nenhum vínculo com a produção e as discussões dos anos 70..."
Praticamente trinta anos depois do aparecimento da chamada arte contemporânea no Brasil, recalcada nos anos 70 pelas próprias instituições culturais, um outro contemporâneo surgido nos anos 90 passou a fazer parte do cotidiano dos salões, bienais, do mercado de arte, das grandes mostras oficiais e de iniciativa privada. Estamos vivendo um momento em que qualquer experiência cultural: religiosa, sociológica, psicológica etc. é incorporada ao campo da arte pelo reconhecimento de um curador ou de outro profissional que detém algum poder sobre a cultura (tudo que não se sabe direito o que é, é arte contemporânea). Como tudo de "novo" na arte já foi feito, o inconsciente moderno presente na arte contemporânea implora um "novo" e, nesta busca insaciável do "novo", outras experiências de outros campos culturais são inseridos no meio de arte como uma novidade. A arte deixa de ser um saber específico, para ser um divertimento ou um acessório cultural. Neste contexto, o regional, o exótico produzido fora dos grandes centros entra na história da arte contemporânea.
No território das artes plásticas brasileiras, a Bahia passou por um processo de amadurecimento meio lento para absorver as linguagens modernas e promover uma renovação capaz de competir com a arte produzida nos grandes centros. O que marcava a produção baiana era uma tendência à regionalização e uma recusa à universalidade, a busca de um "moderno regional". A adaptação às novidades modernas se deu de forma aleatória, dentro de um pacto com a temática local, nordestina. A contemporaneidade custou a chegar, e acabou sendo diluída sem se assimilar direito suas questões, como uma moda fácil que vem dominando a arte brasileira. Uma arte contemporânea sem história, instantânea e descartável.
A VONTADE DE UMA VANGUARDA
Na segunda metade da década de 1960, houve na Bahia uma força de vontade de acompanhar as diversidades da vanguarda brasileira. Não havia um procedimento de vanguarda, nem um pensamento, era mais um inconformismo com a situação em que se encontrava a Bahia diante das inquietações dos anos 1960: contra-cultura, tropicália, experimentalismo e as rupturas dos suportes tradicionais. A vontade de intercâmbio com a vanguarda resultou nas Bienais da Bahia, que contou com a participação das manifestações mais importantes da época: concretismo, neoconcretismo, tropicália etc., fazendo de Salvador o centro das artes plásticas brasileiras. A repercussão nacional despertou interesse da Fundação Bienal de São Paulo em transferir a Bienal Nacional de Salvador para São Paulo. Chegou a provocar o cenário cultural local, contrário a uma atualização do meio de arte baiano. Como o regime político do final dos anos 60 era pouco favorável a liberdade cultural, surgiu o AI-5 e a 2ª Bienal foi fechada. Foi o fim de uma iniciativa que deixou a arte brasileira de luto.
Depois da 2ª Bienal Nacional, em 1968, encerrada com o AI-5, uma iniciativa não só para integrar a Bahia no cenário nacional, como também para criar um outro centro de referência para a arte no Brasil, o circuito de arte na cidade do Salvador se restringiu a eventos locais de pequeno porte, quase sem importância para a arte brasileira. O Museu de Arte Moderna, criado em 1959, tendo como sua primeira diretora a arquiteta Lina Bardi, funcionava no foyer do Teatro Castro Alves. Situado num local de fácil acesso, era a principal instituição dos acontecimentos de artes plásticas do Estado da Bahia. A partir de 63, transferido para o Solar do Unhão, sem recursos e num local de difícil acesso, o museu foi perdendo a importância e passou um período desativado. O mercado que teve sua primeira galeria criada na década de 1950, a Galeria Oxumaré, pioneira na divulgação da arte moderna baiana, manteve-se inexpressivo, incapaz de exercer o papel que lhe era destinado no processo cultural, aliado a uma ausência de crítica de arte e de colecionadores. A galeria Bazarte, uma iniciativa inédita em Salvador, nos anos 60, era o ponto de encontro e atelier de muitos artistas que estavam iniciando, incentivados pelo seu proprietário, José Castro, muito mais um estimulador dos jovens artistas do que mesmo um marchand. A produção de arte girava em torno dos limites das primeiras manifestações modernistas, dentro de um esquema pictórico que reivindicava um retorno às chamadas raízes culturais, alheia às transformações que estavam acontecendo com passagem da vanguarda para a contemporaneidade.
O CONTEMPORÂNEO E O CONCEITUAL
Sem um trânsito de informações, sem um centro de apoio e sem uma política cultural que viabilizasse possíveis linguagens experimentais, entramos na década de 1970 sem acompanhar as mudanças significativas que estavam acontecendo na produção artística e sua leitura. Entre 1972 e 74, o grupo de estudos de linguagem da Bahia (Haroldo Cajazeira, Julio César Lobo, Orlando Pinho e Almandrade), distante dos problemas do circuito local, iniciou um estudo pioneiro na Bahia sobre semiótica, teoria da informação, filosofia da arte, poesia concreta, concretismo neoconcretismo e arte conceitual que levou a publicação da revista "Semiótica", em julho de 1974, uma iniciativa isolada, sem maiores atritos com o meio local.
Os artistas surgidos no início da década de 70, geração pós-AI-5, tinham poucas oportunidades de circular seu trabalho e acompanhar o que estava acontecendo nos grandes centros: as discussões em torno da arte conceitual e o sistema da arte. Contava apenas com os salões universitários, que não trazia nenhuma perspectiva de troca de informações, eram salões domésticos, mostrava a produção local, defasada, sem abrir intercâmbio com outros Estados. O Instituto Goethe foi o principal centro cultural da cidade, na época, principalmente para as manifestações artísticas experimentais, até o início da década de 80. As iniciativas eram individuais e improvisadas, como a exposição organizada por Glei Melo: "Paralelo 78" com a participação dos artistas: Humberto Velame, Mário Cravo Neto, Almandrade e o próprio Glei Melo, no foyer do Teatro Castro Alves, em 1978. O principal agente do circuito, do ponto de vista de investimentos econômicos, era o mercado estatal, mas direcionado para a geração surgida antes da década de 60, já estabelecida no mercado nacional. Sem uma política de ação cultural necessária à preservação e renovação do patrimônio cultural, a cidade do Salvador ficou aquém de uma cultura urbana. Ao contrário da expansão industrial no sul do País, no início dos anos 50, que foi acompanhada de movimentos e eventos no campo das letras e das artes, como: Bienal de São Paulo, Concretismo, Cinema Novo, Bossa Nova, a modernização industrial baiana entre as décadas de 60 e 70, que contou com a implantação do Centro Industrial de Aratu e do Complexo Petroquímico de Camaçari, não teve correspondente no meio cultural local, por se tratar, possivelmente, de expansão do pólo industrial São Paulo/Rio. A indústria do turismo, hegemônica, a partir da segunda metade dos anos 70, movida pela especulação do patrimônio natural, artístico e arquitetônico e as festas populares, deu impulso ao desenvolvimento do ramo hoteleiro, mas não estabeleceu o intercâmbio de experiências nem propiciou um regime favorável ao surgimento de uma cultura urbana que estimulasse as diferenças culturais.
Somente no final dos anos 1970, o Museu de Arte Moderna reabre as portas para reassumir o seu papel no circuito da arte, com uma grande exposição, sem nenhuma seleção, a Exposição Cadastro, um equívoco, mas um equívoco necessário, era uma vitrine da arte baiana. Desde as Bienais, não havia acontecido uma mostra desse porte, do ponto de vista de quantidade, não de qualidade, incomparável com as Bienais. Participaram das Bienais as principais tendências da arte de vanguarda brasileira e estava em outro contexto que diz respeito aos agitados anos 60. Essa reabertura do circuito de arte estava inserido dentro de outro momento político que passava o país: abertura, anistia, liberdades democráticas. O governo do Estado, através da Fundação Cultural do Estado, inaugurava uma nova perspectiva cultural: O AI5 fechou a Bienal, a chamada abertura política reabre o museu e devolve a liberdade de expressão. Era o início de uma nova etapa, a redemocratização do País. Mas a Exposição Cadastro, nas suas melhores intenções, mostrou que a Bahia estava distante da contemporaneidade, salvo alguns exemplos isolados, não tinha nem entendido direito a modernidade, às voltas com um moderno regional. A exposição " O Sacrifício do Sentido", realizada por Almandrade, em 1980, foi a primeira exposição individual de arte contemporânea, do Museu de Arte Moderna da Bahia, com o apoio da Fundação Cultural do Estado.
O "NOVO CONTEMPORÂNEO"
Na década de 1980, o mercado começa a se estruturar como um dos suportes do meio de arte, mas só em meados dos anos 1990 ele consegue absorver as produções mais recentes, que exigem um olhar mais apurado, o que estimulou a produção contemporânea, ainda iniciante. A galeria ACBEU, criada em 1975, veio se constituir num importante espaço de divulgação da produção de arte, não só para artistas emergentes, como também para artistas reconhecidos no mercado de arte. A Escola de Belas Artes da Universidade Federal da Bahia, a principal escola de arte, manteve-se à parte do processo cultural, sem tomar partido com relação às transformações das linguagens artísticas. Os Salões Baianos de 1986 e 1987 foram iniciativas para inserir a Bahia no cenário nacional e estabelecer um intercâmbio entre artistas, também sem continuidade.
Reiniciados nos anos 1990, com um novo formato, juntamente com outros projetos culturais e iniciativas de interesse nacional, os Salões integraram o MAM da Bahia no circuito nacional de museus. Diferentemente dos anos 1970, o mercado, que era mais amador, atualmente passou a ocupar um lugar de destaque no ambiente cultural que não pode ser encarado apenas como um movimentador da economia, na medida em que participa da formação de um público consumidor, estimulando colecionadores.
Na década de 1990 foi importante também, para a dinamização do circuito, a participação da iniciativa privada. O que mais se destacou foi a criação do Prêmio Copene de Artes Plásticas, patrocinando exposições de artistas que estavam contribuindo para a transformação da arte baiana, e publicações como "100 Artistas Plásticos Baianos" que veio suprir uma carência de documentação das artes plásticas na Bahia. O marchand passa a desempenhar um papel decisivo para uma possível história da arte baiana, do ponto de vista do mercado, que deixa de ser um comércio de compra e revenda de obras, e passa a investir no reconhecimento do artista e cria, de certa forma, um referencial para o comprador de arte, oferecendo-lhe uma margem de segurança para o seu investimento.
Depois dos anos 1970, no contexto nacional e internacional, ocorreu o retorno da pintura, o reencontro do artista com a emoção e o prazer de pintar. Um prazer e uma emoção solicitados pelo mercado em reação a um suposto hermetismo das linguagens conceituais que marcaram a década de 1970. A arte contemporânea passou a ser um fazer subjetivo, como se arte fosse um acessório psicológico ou sociológico. Troca-se de suporte, nos anos 1990, com o predomínio da tridimensionalidade: escultura, objeto, instalação, performance etc., mas a arte não retomou a razão. Para uma condição pós-moderna, o suporte não é o essencial, mas o significado. Somente na segunda metade da década de 1990, depois de instaurada a moda contemporânea, o circuito de arte baiano absorve as novas linguagens, que passam a conviver, sem atrito, com as tradições locais.
A convivência de várias produções no circuito de arte mobiliza um público consumidor de interesses diferentes, no que diz respeito às informações estéticas, o que vai, de alguma forma, movimentar o mercado de arte e estimular o desenvolvimento da produção artística. Hoje, o que podemos detectar como arte baiana, legitimada pelas instituições culturais e o mercado, não é mais uma unidade, mas uma variedade de trabalhos, muitas vezes contraditórios. Uma pluralidade de estilos e tendências, representando várias gerações de artistas. Circula no mercado de arte desde linguagens acadêmicas das décadas de 20 e 30, passando pelas décadas de 40 e 50, que correspondem ao primeiro contato da Bahia com o movimento moderno, até as manifestações em torno da contemporaneidade desenvolvidas nas últimas duas décadas. De um lado, temos uma produção determinada pela figuração regional, que utiliza os esquemas formais das primeiras experiências modernas; de outro, uma produção de "novos artistas contemporâneos" que ainda estão começando, muitas vezes incentivada pela ótica dos salões de arte, cujos trabalhos carecem de uma formalização decisiva. No meio disso, temos uma geração intermediária, surgida nos finais da década de 1960 e início de 1970, com uma diversidade de estilos, reconhecida como uma referência significativa para a pós-modernidade das artes plásticas baianas .
Almandrade
(artista plástico, poeta e arquiteto)
VANGUARDA E CONTEMPORANEIDADE
(BREVE RELATO DO CIRCUITO DE ARTE NA BAHIA)
A história da arte dá conta apenas do que acontece nos centros. Aliás, a arte sempre dependeu dos centros culturais de informação e divulgação, com algumas raras exceções. No Brasil, não se tem uma informação menos apressada do que acontece nas outras regiões. É sempre um olhar à distância, que vê apenas o regional e o exótico, principalmente em se falando de arte contemporânea. De um lado, defrontamos com o descrédito dos grandes centros e suas instituições, críticos, curadores, marchands etc. com relação ao que se produz na periferia. De outro lado, convivemos ainda com comportamentos no meio de arte e uma produção dominante defasada diante das questões atuais que preocupam o fazer artístico. Como diz o manifesto "Arte/Bahia/ estagnação" de 1976, assinado por mim e pelo crítico Haroldo Cajazeira: "...A situação da arte na Bahia estagnou-se nas propostas da década de 60..., não havendo nenhum vínculo com a produção e as discussões dos anos 70..."
Praticamente trinta anos depois do aparecimento da chamada arte contemporânea no Brasil, recalcada nos anos 70 pelas próprias instituições culturais, um outro contemporâneo surgido nos anos 90 passou a fazer parte do cotidiano dos salões, bienais, do mercado de arte, das grandes mostras oficiais e de iniciativa privada. Estamos vivendo um momento em que qualquer experiência cultural: religiosa, sociológica, psicológica etc. é incorporada ao campo da arte pelo reconhecimento de um curador ou de outro profissional que detém algum poder sobre a cultura (tudo que não se sabe direito o que é, é arte contemporânea). Como tudo de "novo" na arte já foi feito, o inconsciente moderno presente na arte contemporânea implora um "novo" e, nesta busca insaciável do "novo", outras experiências de outros campos culturais são inseridos no meio de arte como uma novidade. A arte deixa de ser um saber específico, para ser um divertimento ou um acessório cultural. Neste contexto, o regional, o exótico produzido fora dos grandes centros entra na história da arte contemporânea.
No território das artes plásticas brasileiras, a Bahia passou por um processo de amadurecimento meio lento para absorver as linguagens modernas e promover uma renovação capaz de competir com a arte produzida nos grandes centros. O que marcava a produção baiana era uma tendência à regionalização e uma recusa à universalidade, a busca de um "moderno regional". A adaptação às novidades modernas se deu de forma aleatória, dentro de um pacto com a temática local, nordestina. A contemporaneidade custou a chegar, e acabou sendo diluída sem se assimilar direito suas questões, como uma moda fácil que vem dominando a arte brasileira. Uma arte contemporânea sem história, instantânea e descartável.
A VONTADE DE UMA VANGUARDA
Na segunda metade da década de 1960, houve na Bahia uma força de vontade de acompanhar as diversidades da vanguarda brasileira. Não havia um procedimento de vanguarda, nem um pensamento, era mais um inconformismo com a situação em que se encontrava a Bahia diante das inquietações dos anos 1960: contra-cultura, tropicália, experimentalismo e as rupturas dos suportes tradicionais. A vontade de intercâmbio com a vanguarda resultou nas Bienais da Bahia, que contou com a participação das manifestações mais importantes da época: concretismo, neoconcretismo, tropicália etc., fazendo de Salvador o centro das artes plásticas brasileiras. A repercussão nacional despertou interesse da Fundação Bienal de São Paulo em transferir a Bienal Nacional de Salvador para São Paulo. Chegou a provocar o cenário cultural local, contrário a uma atualização do meio de arte baiano. Como o regime político do final dos anos 60 era pouco favorável a liberdade cultural, surgiu o AI-5 e a 2ª Bienal foi fechada. Foi o fim de uma iniciativa que deixou a arte brasileira de luto.
Depois da 2ª Bienal Nacional, em 1968, encerrada com o AI-5, uma iniciativa não só para integrar a Bahia no cenário nacional, como também para criar um outro centro de referência para a arte no Brasil, o circuito de arte na cidade do Salvador se restringiu a eventos locais de pequeno porte, quase sem importância para a arte brasileira. O Museu de Arte Moderna, criado em 1959, tendo como sua primeira diretora a arquiteta Lina Bardi, funcionava no foyer do Teatro Castro Alves. Situado num local de fácil acesso, era a principal instituição dos acontecimentos de artes plásticas do Estado da Bahia. A partir de 63, transferido para o Solar do Unhão, sem recursos e num local de difícil acesso, o museu foi perdendo a importância e passou um período desativado. O mercado que teve sua primeira galeria criada na década de 1950, a Galeria Oxumaré, pioneira na divulgação da arte moderna baiana, manteve-se inexpressivo, incapaz de exercer o papel que lhe era destinado no processo cultural, aliado a uma ausência de crítica de arte e de colecionadores. A galeria Bazarte, uma iniciativa inédita em Salvador, nos anos 60, era o ponto de encontro e atelier de muitos artistas que estavam iniciando, incentivados pelo seu proprietário, José Castro, muito mais um estimulador dos jovens artistas do que mesmo um marchand. A produção de arte girava em torno dos limites das primeiras manifestações modernistas, dentro de um esquema pictórico que reivindicava um retorno às chamadas raízes culturais, alheia às transformações que estavam acontecendo com passagem da vanguarda para a contemporaneidade.
O CONTEMPORÂNEO E O CONCEITUAL
Sem um trânsito de informações, sem um centro de apoio e sem uma política cultural que viabilizasse possíveis linguagens experimentais, entramos na década de 1970 sem acompanhar as mudanças significativas que estavam acontecendo na produção artística e sua leitura. Entre 1972 e 74, o grupo de estudos de linguagem da Bahia (Haroldo Cajazeira, Julio César Lobo, Orlando Pinho e Almandrade), distante dos problemas do circuito local, iniciou um estudo pioneiro na Bahia sobre semiótica, teoria da informação, filosofia da arte, poesia concreta, concretismo neoconcretismo e arte conceitual que levou a publicação da revista "Semiótica", em julho de 1974, uma iniciativa isolada, sem maiores atritos com o meio local.
Os artistas surgidos no início da década de 70, geração pós-AI-5, tinham poucas oportunidades de circular seu trabalho e acompanhar o que estava acontecendo nos grandes centros: as discussões em torno da arte conceitual e o sistema da arte. Contava apenas com os salões universitários, que não trazia nenhuma perspectiva de troca de informações, eram salões domésticos, mostrava a produção local, defasada, sem abrir intercâmbio com outros Estados. O Instituto Goethe foi o principal centro cultural da cidade, na época, principalmente para as manifestações artísticas experimentais, até o início da década de 80. As iniciativas eram individuais e improvisadas, como a exposição organizada por Glei Melo: "Paralelo 78" com a participação dos artistas: Humberto Velame, Mário Cravo Neto, Almandrade e o próprio Glei Melo, no foyer do Teatro Castro Alves, em 1978. O principal agente do circuito, do ponto de vista de investimentos econômicos, era o mercado estatal, mas direcionado para a geração surgida antes da década de 60, já estabelecida no mercado nacional. Sem uma política de ação cultural necessária à preservação e renovação do patrimônio cultural, a cidade do Salvador ficou aquém de uma cultura urbana. Ao contrário da expansão industrial no sul do País, no início dos anos 50, que foi acompanhada de movimentos e eventos no campo das letras e das artes, como: Bienal de São Paulo, Concretismo, Cinema Novo, Bossa Nova, a modernização industrial baiana entre as décadas de 60 e 70, que contou com a implantação do Centro Industrial de Aratu e do Complexo Petroquímico de Camaçari, não teve correspondente no meio cultural local, por se tratar, possivelmente, de expansão do pólo industrial São Paulo/Rio. A indústria do turismo, hegemônica, a partir da segunda metade dos anos 70, movida pela especulação do patrimônio natural, artístico e arquitetônico e as festas populares, deu impulso ao desenvolvimento do ramo hoteleiro, mas não estabeleceu o intercâmbio de experiências nem propiciou um regime favorável ao surgimento de uma cultura urbana que estimulasse as diferenças culturais.
Somente no final dos anos 1970, o Museu de Arte Moderna reabre as portas para reassumir o seu papel no circuito da arte, com uma grande exposição, sem nenhuma seleção, a Exposição Cadastro, um equívoco, mas um equívoco necessário, era uma vitrine da arte baiana. Desde as Bienais, não havia acontecido uma mostra desse porte, do ponto de vista de quantidade, não de qualidade, incomparável com as Bienais. Participaram das Bienais as principais tendências da arte de vanguarda brasileira e estava em outro contexto que diz respeito aos agitados anos 60. Essa reabertura do circuito de arte estava inserido dentro de outro momento político que passava o país: abertura, anistia, liberdades democráticas. O governo do Estado, através da Fundação Cultural do Estado, inaugurava uma nova perspectiva cultural: O AI5 fechou a Bienal, a chamada abertura política reabre o museu e devolve a liberdade de expressão. Era o início de uma nova etapa, a redemocratização do País. Mas a Exposição Cadastro, nas suas melhores intenções, mostrou que a Bahia estava distante da contemporaneidade, salvo alguns exemplos isolados, não tinha nem entendido direito a modernidade, às voltas com um moderno regional. A exposição " O Sacrifício do Sentido", realizada por Almandrade, em 1980, foi a primeira exposição individual de arte contemporânea, do Museu de Arte Moderna da Bahia, com o apoio da Fundação Cultural do Estado.
O "NOVO CONTEMPORÂNEO"
Na década de 1980, o mercado começa a se estruturar como um dos suportes do meio de arte, mas só em meados dos anos 1990 ele consegue absorver as produções mais recentes, que exigem um olhar mais apurado, o que estimulou a produção contemporânea, ainda iniciante. A galeria ACBEU, criada em 1975, veio se constituir num importante espaço de divulgação da produção de arte, não só para artistas emergentes, como também para artistas reconhecidos no mercado de arte. A Escola de Belas Artes da Universidade Federal da Bahia, a principal escola de arte, manteve-se à parte do processo cultural, sem tomar partido com relação às transformações das linguagens artísticas. Os Salões Baianos de 1986 e 1987 foram iniciativas para inserir a Bahia no cenário nacional e estabelecer um intercâmbio entre artistas, também sem continuidade.
Reiniciados nos anos 1990, com um novo formato, juntamente com outros projetos culturais e iniciativas de interesse nacional, os Salões integraram o MAM da Bahia no circuito nacional de museus. Diferentemente dos anos 1970, o mercado, que era mais amador, atualmente passou a ocupar um lugar de destaque no ambiente cultural que não pode ser encarado apenas como um movimentador da economia, na medida em que participa da formação de um público consumidor, estimulando colecionadores.
Na década de 1990 foi importante também, para a dinamização do circuito, a participação da iniciativa privada. O que mais se destacou foi a criação do Prêmio Copene de Artes Plásticas, patrocinando exposições de artistas que estavam contribuindo para a transformação da arte baiana, e publicações como "100 Artistas Plásticos Baianos" que veio suprir uma carência de documentação das artes plásticas na Bahia. O marchand passa a desempenhar um papel decisivo para uma possível história da arte baiana, do ponto de vista do mercado, que deixa de ser um comércio de compra e revenda de obras, e passa a investir no reconhecimento do artista e cria, de certa forma, um referencial para o comprador de arte, oferecendo-lhe uma margem de segurança para o seu investimento.
Depois dos anos 1970, no contexto nacional e internacional, ocorreu o retorno da pintura, o reencontro do artista com a emoção e o prazer de pintar. Um prazer e uma emoção solicitados pelo mercado em reação a um suposto hermetismo das linguagens conceituais que marcaram a década de 1970. A arte contemporânea passou a ser um fazer subjetivo, como se arte fosse um acessório psicológico ou sociológico. Troca-se de suporte, nos anos 1990, com o predomínio da tridimensionalidade: escultura, objeto, instalação, performance etc., mas a arte não retomou a razão. Para uma condição pós-moderna, o suporte não é o essencial, mas o significado. Somente na segunda metade da década de 1990, depois de instaurada a moda contemporânea, o circuito de arte baiano absorve as novas linguagens, que passam a conviver, sem atrito, com as tradições locais.
A convivência de várias produções no circuito de arte mobiliza um público consumidor de interesses diferentes, no que diz respeito às informações estéticas, o que vai, de alguma forma, movimentar o mercado de arte e estimular o desenvolvimento da produção artística. Hoje, o que podemos detectar como arte baiana, legitimada pelas instituições culturais e o mercado, não é mais uma unidade, mas uma variedade de trabalhos, muitas vezes contraditórios. Uma pluralidade de estilos e tendências, representando várias gerações de artistas. Circula no mercado de arte desde linguagens acadêmicas das décadas de 20 e 30, passando pelas décadas de 40 e 50, que correspondem ao primeiro contato da Bahia com o movimento moderno, até as manifestações em torno da contemporaneidade desenvolvidas nas últimas duas décadas. De um lado, temos uma produção determinada pela figuração regional, que utiliza os esquemas formais das primeiras experiências modernas; de outro, uma produção de "novos artistas contemporâneos" que ainda estão começando, muitas vezes incentivada pela ótica dos salões de arte, cujos trabalhos carecem de uma formalização decisiva. No meio disso, temos uma geração intermediária, surgida nos finais da década de 1960 e início de 1970, com uma diversidade de estilos, reconhecida como uma referência significativa para a pós-modernidade das artes plásticas baianas .
Almandrade
(artista plástico, poeta e arquiteto)
domingo, 14 de abril de 2013
Coletivo Maria Vernissage em vídeos!
Começa agora uma nova proposta do Maria: pequenos vídeos com informações sobre o que tece e acontece em arte na Bahia. Acompanhem-nos!
http://vimeo.com/63934857
http://vimeo.com/63934857
sexta-feira, 5 de abril de 2013
SP-Arte começa amanhã com as cinco maiores galerias de arte do mundo por Silas Martí, Folha de S. Paulo
Estão chegando os gigantes. Quando a nona edição da feira SP-Arte
abrir as portas no pavilhão da Bienal amanhã, estarão debaixo do mesmo
teto as cinco maiores e mais poderosas galerias de arte do mundo, com
obras de grifes como Picasso, Alberto Giacometti e Gerhard Richter.
Numa reunião inédita abaixo da linha do Equador, Gagosian, White
Cube, Pace, David Zwirner e Hauser & Wirth - juntas no topo da
pirâmide de faturamento global da arte - estão trazendo a São Paulo
peças que valem até R$ 14 milhões, sem medo de que encalhem nos
estandes.
"Não sei se eles esperam vender tudo. Uma boa parte disso é para
marcar território, mostrar a posição que eles têm no mercado", diz
Fernanda Feitosa, diretora da feira. "Não é pechincha. Elas não estão
vindo para brincar."
Não mesmo. Desde que a feira paulistana, a exemplo de sua rival
carioca ArtRio, assegurou a isenção de parte dos impostos sobre obras
importadas à venda na feira, as portas para o mercado internacional - que antes sofria uma tarifação de quase 50% sobre o valor de cada
trabalho - foram escancaradas.
Quem deu o primeiro passo foi a gigante britânica White Cube, que
estreou na SP-Arte no ano passado e, de quebra, abriu uma galeria
paulistana, que já vendeu metade das obras de Tracey Emin, a primeira
artista de seu elenco a expor no país.
No rastro da White Cube, que volta à feira com obras de Damien Hirst e
Antony Gormley de até R$ 3 milhões, vieram outras 40 casas de fora - a
maior presença estrangeira na história da SP-Arte, que neste ano tem 122
galerias.
Esse "marco histórico", nas palavras de Feitosa, reflete o interesse
maior dos colecionadores brasileiros pelos artistas estrangeiros.
Mesmo que o país responda por só 1% do valor total de vendas no
mundo, R$ 1,2 bilhão em arte foi vendido aqui no ano passado, segundo um
estudo divulgado pela feira holandesa Tefaf em março.
Enquanto exportações do setor caíram 15% no mundo, galerias
brasileiras aumentaram a participação estrangeira em 47% nos últimos
dois anos -ou seja, com a retração no mundo desenvolvido, estrangeiros
veem no Brasil um mercado novo e potente.
"Brasileiros querem fazer parte do diálogo internacional", diz
Victoria Gelfand Magalhães, da Gagosian. "O mercado está abrindo cada
vez mais. É palpável o desejo dos colecionadores de ter esses grandes
nomes globais."
Na mesma linha de raciocínio, a Pace, uma das mais tradicionais
galerias de Nova York, estreia na SP-Arte com um estande "exagerado".
sexta-feira, 22 de março de 2013
quinta-feira, 21 de março de 2013
Para gostar de arte latino-americana por Paula Alzugaray, Istoé
Matéria de Paula Alzugaray originalmente publicada na revista Istoé em 15 de março de 2013.
Uma das mais abrangentes coleções de arte contemporânea latino-americana abre sua sede no Rio de Janeiro, a Casa Daros
Quando, em novembro de 2008, o curador alemão Hans-Michael Herzog
declarou em entrevista às páginas vermelhas de IstoÉ que o papel da
coleção Daros Latinamerica era reescrever a história da arte, a economia
global ainda não havia encontrado uma nova ordem. De lá para cá,
vive-se um processo de reposicionamento dos antigos paradigmas de centro
e periferia, e a arte contemporânea brasileira tem tido papel de
destaque nesse processo. Hoje o Brasil está na mira das grandes grifes
da arte, como a galeria americana Gagosian e a inglesa White Cube. Mas o
interesse da coleção suíça Daros e de Herzog pela região é anterior a
isso. Há 13 anos a Daros, natural de Zurique, na Suíça, vem constituindo
uma das mais abrangentes coleções dedicadas à produção artística da
América Latina, hoje com mais de 1.100 obras de 116 artistas, realizadas
desde a década de 1960 até a atualidade. A coleção não tem similar na
Europa. Para contribuir com a difusão e reflexão sobre esse importante
acervo e a produção artística da região, a coleção inaugura, no sábado
23, a Casa Daros, em um edifício histórico em Botafogo, no Rio, depois
de sete anos de meticulosa obra de restauro e modernização.
A Casa Daros não será a reserva técnica da coleção. Seu projeto é
funcionar como plataforma de comunicação entre os países das Américas.
“A Casa Daros nasce para divulgar a arte latino-americana, mas,
fundamentalmente, como ferramenta de educação e cidadania”, afirma
Isabella Rosado Nunes, diretora-geral da instituição. Amostra disso é
que, desde que a equipe se instalou em um pequeno anexo ao casarão de
monumentais 11 mil metros quadrados, começou a edificar seu projeto de
arte-educação com o mesmo esmero que se dedicou à restauração do prédio.
Nesses anos, já colocou em prática sua vocação em projetos como o
programa “Meridianos”, que promoveu encontros entre dez artistas da
coleção, entre eles Julio Le Parc, Iole de Freitas, Lenora de Barros,
Carlos Cruz-Diez e Vik Muniz; ou como o ateliê Casinha Daros, oficinas
de técnicas pinhole para crianças e jovens do complexo da Maré,
realizadas em parceria com o Observatório das Favelas.
A abertura oficial de uma instituição que já mostrou grande
capacidade de diálogo e integração com a sociedade local, portanto, é um
fato a se comemorar. Suas duas exposições inaugurais são presentes não
só para o carioca, mas para todos os latino-americanos. Com curadoria de
Hans-Michael Herzog, a exposição “Cantos Cuentos Colombianos” preenche
um lacuna de informação e oferece ao público brasileiro uma panorâmica
da arte contemporânea colombiana. Já a mostra “Para Saber Escutar”,
focada nos estudos do pedagogo brasileiro Paulo Freire e com curadoria
do diretor de arte-educação, Eugenio Valdés Figueroa, vem confirmar a
vocação da Casa como um espaço de aprendizado.
sexta-feira, 8 de março de 2013
Entrevista com Paulo Herkenhoff, diretor do Museu de Arte do Rio, por Fabio Cypriano e Marco Aurélio Canônico, Folha de S. Paulo
Matéria de Fabio Cypriano e Marco Aurélio Canônico originalmente publicada na Ilustrada no jornal Folha de S. Paulo em 28 de fevereiro de 2013.
"Não queremos um museu que seja vitrine, não é um museu dos grandes fetiches, dos recordes de aquisição, mas onde as coisas entram porque podem produzir algum sentido. É um museu de produção de pensamento."
Essa é a defesa entusiasmada de Paulo Herkenhoff, diretor cultural do Museu de Arte do Rio (MAR). Ele fala do espaço com a empolgação de alguém prestes a concretizar um sonho. "Prometi a mim mesmo que não trabalharia mais em museus, mas não resisti a esse projeto", confessa.
Leia a íntegra da entrevista com Paulo Herkenhoff, diretor do Museu de Arte do Rio.
Folha - O Rio precisa de mais um museu?
Paulo Herkenhoff - O Rio precisa de um museu que está a altura da tarefa civilizatória de um museu. A primeira tarefa de um museu é colecionar. Qual museu do Rio está colecionando?
O Museu Nacional de Belas Artes?
Só porque comprou um Portinari? Mas há quanto tempo não comprava?
Mas é preciso construir um novo museu para começar a colecionar?
Uma nova instituição, já que o Belas Artes está como está. Os museus privados têm grande dificuldade de sobrevivência e os públicos estão atrelados à burocracia, ao aparelhamento.
O Ibram (Instituto Brasileiro de Museus) não teve dinheiro para comprar um desenho de Tarsila do Amaral sobre um poema de Oswald de Andrade, mas tinha dinheiro para pagar ônibus para a claque. O Ibram não representa a museologia brasileira, representa uma visão do Estado, personalizada, sobre museus. O que está sendo construído para o acervo do Belas Artes?
A minha pergunta é: arte é necessária? Quando você me pergunta se mais um museu é necessário, eu pergunto: mais uma pintura é necessária? Mais uma fotografia é necessária?
Elas são necessárias porque são da maneira que são, são significativas para a sociedade. Senão, é mais um lixo que vai ser acumulado e vai parar na feira.
Você tem metas para o aumento da coleção?
Eu sou borgeano, freudiano e warburguiano [referente ao historiador da arte alemão Aby Warburg (1866 - 1929)]. Parar de colecionar é conversar com a morte. O que é a pulsão de vida em um coleção é a coleção viva, continuando. Eu sou warburguiano pelas formas transversais. Estou muito interessado em livros de artistas.
Eu escrevi um artigo chamado "Pum e cuspe no museu" para lidar com os pequenos atos, para quem não entende o conceito de "inframince", de Marcel Duchamp, em que ele fala dos pequenos fatos na vida que nos atordoam, que criam diferença, que nos capturam no estranhamento.
Para isso, ele cita como exemplo o roçar da calça de veludo como um som que se dispara e nos dá uma outra percepção do mundo. Se eu não souber diferenciar um "inframince" de um barulho qualquer, eu posso achar que isso é um pum.
Da mesma maneira, se eu não estudar o informe, certos pequenos gestos, eu vou pensar que o escarro, que é origem da noção de informe, é cuspe. Aí, eu não vou entender a obra do porco empalhado do Nelson Leirner. Eu vou achar que é porco, e a obra é arte, assim como posso pensar que é arte, quando é apenas porco.
E, para terminar com Borges, ele dizia que os argentinos tinham direito a Hamlet e ao cosmos.
Você diz que o MAR não é um museu de eventos, você acha que os museus no Brasil são muito preocupados com eventos?
Não sei. Posso dizer que este [o MAR] não é um museu de eventos. É o museu necessário. Há dez anos eu quis fazer um programa de educação para atender 200 mil crianças de rede municipal e me puxaram o tapete. Este projeto aqui era para o Museu de Belas Artes. A ideia de um museu para a rede pública era de 2003.
E por que não aconteceu, quando você era diretor do Museu de Belas Artes?
Porque o dinheiro foi negado. Então qual é missão de um museu no Rio? Primeiro, colecionar. Quais museus do Rio têm missão clara? Acho que o MAM (Museu de Arte Moderna) está construindo uma visão clara, tem um programa de exposições muito importante, um programa de debates, mas não está colecionando. Sem colecionismo não existe ideia de museu.
Qual era a ideia original? É verdade que se pensou em uma Pinacoteca, ou em um museu para guardar o acervo de Roberto Marinho?
Sobre isso você nunca vai ver algo escrito, apenas intriga. Quem disse isso? Intriga é fácil fazer.
Mas Pinacoteca era a ideia original...
Não vamos misturar alhos com bugalhos. Esse é um museu da cidade do Rio para a população do Rio, pensado para a rede pública municipal de ensino. Se for bom para a rede pública, será bom para os cidadãos do Rio, e se for bom para o cidadão do Rio, será bom para os turistas. Se a gente fizer um museu que discuta bem o Rio, vai ser bom para nós e para o Rio. Esse é o primeiro ponto.
Esse museu, inicialmente, foi pensando, não por mim, para abrigar, temporariamente, coleções privadas, mas sem nenhuma conexão com os organizadores do museu. Ou seja, era um museu que parecia museu mas não era. Museu sem coleção é centro cultural. Isso foi entendido. A ideia de chamar Pinacoteca não é minha, mas o nome Museu de Arte do Rio de Janeiro é meu. Pinacoteca é coleção de pinturas, então seria inadequado. Temos que ser lógicos na escolha das palavras.
Quando se incorpora o nome museu, incorpora-se tudo que é da civilização de museus: que forma coleção, que estuda sua coleção, que registra. Nós temos trabalhos já começados a serem feitos com universidades para o estudo da coleção.
Não é um museu que tem um penduricalho de gente, mas que trabalha com muita gente. De uma universidade vêm 12 professores, o que é um trabalho de troca mútua, porque não envolve dinheiro. A universidade quer pesquisar, nós desejamos pesquisadores e é a universidade que define a pauta. Nós não vamos substituir a universidade, mas ser um espaço de reflexão.
Mais: não tem "interior decoration", não tem shopping. Tudo aqui tem sentido. Se você me perguntar sobre qualquer obra que você viu, eu vou lhe explicar porque ela está na coleção, porque ela está na exposição e porque ela está naquela posição na exposição. Eu não prego uma obra na parede sem saber que obra é essa, qual seu sentido histórico, qual é sua relação em uma exposição. Eu não faço decoração de interior e nem defendo consumo.
Estamos em um momento no Brasil que o mercado define as relações com a arte?
Quais são as notícias que mais saem nos jornais? O mercado é necessário, mas é necessário na instância própria do mercado.
Esse museu é um trabalho onde a sociedade civil participa em um eixo entre o Estado e o mercado, cada um em uma posição. Isso se chama esfera pública na teoria habermasiana. Qual é o lugar da arte na esfera pública do Rio? Quais são os museus que estão introduzindo a esfera pública, pensada como tal?
Quando eu digo que nós temos mais de 40 fundos, isso significa que nós temos mais de 40 decisões de apoiarem a constituição de um acervo para o Rio, para o sistema educacional.
Como eu disse, não é cultura do espetáculo. Não há preocupação com recorde. Eu não disse em nenhum momento o valor de uma obra. Eu não falei de raridades.
Eu digo que a incorporação mais importante no MAR é a aquisição de um Aleijadinho, o que não havia em nenhum museu da cidade. É preciso pensar o que significa uma cidade que não tem Aleijadinho e nem o está buscando, em termos da história da arte brasileira e o que ele representa no presente, como ele alimenta o presente em valores simbólicos e para a população afro-brasileira.
Há uma questão essencial no MAR que é a preocupação com o educativo, mas museus, como o MAM nos anos 1960, tiveram uma papel importante para estimular a produção artística. Existe essa preocupação aqui?
Há alguns pontos que sustentam o arco da educação no MAR, entre esses pontos há um projeto de pequenos cursos profissionalizantes para adolescentes das comunidades, sem grandes oportunidades, que é como ensinar fazer moldura, montar uma exposição, ou seja, preparar jovens que possam adquirir uma profissão. Isso já está em marcha.
Depois teremos também seminários de curadoria, coordenados pela Lisette Lagnado. Isso ainda não começou, talvez no segundo semestre, ou mesmo no ano que vem. Mas a ideia é ter seminários, que durem três ou quatro meses. Primeiro as pessoas passam uma semana no Rio, depois viajam e voltam.
Depois nós vamos ter residências de artistas. Já temos autorização para alugar uma casa no Morro da Conceição, só não está sendo trabalhado agora, porque a prioridade é o processo de institucionalização.
O Rio tem uma dificuldade para criar um sistema de massa de arte e educação. Qualquer capital importante, você pega Belém do Pará, por exemplo, eles levam dez mil crianças ao Arte Pará, com monitoria, ônibus, pessoas que ajudam. Isso em Belém do Pará, na Amazônia, um lugar distante, fora do sistema de lei Rouanet.
Você vai a Porto Alegre e há uma tradição histórica. Há 30 anos eu vou a Porto Alegre, com a Evelyn Ioschpe, e há 30 anos já se trabalha lá com arte e educação.
Na Bienal de São Paulo, eu levei 200 mil crianças, um projeto de massa. E isso é muito importante. Temos dois desafios: um é como você traz, não é fácil trazer, custa dinheiro; o outro problema é como você individualiza, lidando com a massa, quais os sistemas de poder que se estabelecem e precisam ser rompidos.
O professor de arte não é o que não sabe, é o que pode. Se você diz que uma curadoria é um saber superior, você diz que o professor, que rala com a criança, não sabe. Claro que ele sabe, inclusive dar a dimensão da incomunicabilidade.
Nesse sentido, o MAM do Rio tem um trabalho importante, o [Guilherme] Vergara, no MAC de Niterói, tem um trabalho importante, a Casa Daros vai ter um papel importantíssimo. Mas cadê os outros museu? Eles não têm recursos.
E o papel dos centros culturais, como o CCBB?
É bom, mas eles têm outra dimensão. Há os centros culturais financiados por empresas, que têm uma necessidade de performatividade importante, ligado ao sistema de marketing. O banco fez 150 anos, tem uma campanha vinculada a crianças, então faz uma exposição de novos artistas. Isso não é o que a gente quer. A gente quer independência. A gente não pretende ter a maior visitação do ano.
Nós pretendemos explorar ao máximo o resultado social do custo financeiro que tem um museu. Quanto custa para a cidade produzir um museu como esse? Esse custo tem que ser defendido a cada centavo, ele tem que produzir uma irradiação correspondente. Eu sei fazer uma exposição bonita, mas fazer uma exposição que realmente signifique algo para pessoas que nunca vieram ao museu é o nosso desafio.
Como receber uma pessoa que cruza esse espaço desconhecido, que para ela é uma barreira social, já que ela nem sabe se está vestida corretamente, ela tem medo de se comportar. Isso tudo tem que ser visto com enorme afetividade.
Mas metade da verba para o funcionamento do museu será buscado no mercado, via Lei Rouanet...
Não uso esse conceito de mercado porque eu não trabalho com produtos. Nunca trabalhei com produtos. Trabalho com livros, curadorias, textos, aulas, visitas mediadas, esse é meu processo.
O mercado é muito importante, mas dentro do MAR há um grupo de empresários que vai trabalhar isso, mas não para desenvolvimento econômico, e sim para desenvolvimento social. E nós seremos avaliados por isso, por instituições como a Fundação Roberto Marinho, que tem a Vera Guimarães, que nos anos 1960 foi assistente do Paulo Freire, e já alfabetizou cinco milhões de crianças.
Como é a estrutura do MAR?
Nós não queremos uma penca de gente aqui, nós queremos abrir espaço para as pessoas. Por isso, a exposição da coleção Fadel, eu estou fazendo junto com o [Roberto] Conduru, que é professor da Universidade Federal do Rio de Janeiro.
A exposição do Rio é feita por um professor universitário e um curador da Pinacoteca de São Paulo e professor da USP. Não se trata de criar um corpo burocrático com funcionários donos de seus espacinhos. Isso é um museu onde o pensamento é vivo. A biblioteca vai começar, em julho, com 5 mil volumes. Você tem ideia de como estão as bibliotecas do Rio? O Museu Nacional de Belas Artes tem comprado livros? Comprar livros não dá resultado político!
Eu não vou mudar o mundo, mas com essa equipe a gente pode transformar essa cidade. Eu vou trazer o [filósofo francês Jacques] Rancière, o [cineasta alemão Harun] Farocki, o [historiador francês] George Didi-Huberman, mais os do Brasil, como o Daniel Lins, especialista em Deleuze, no Ceará, isso vai transformar o Rio.
O Rio ficou à margem, o que se passa de importante no Rio de Janeiro, que realmente produza transformação? Eu sempre salvo o MAM, porque acho que ele faz um trabalho sensacional, mas o MAM não esgota as necessidades do Rio.
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